terça-feira, 2 de outubro de 2007

LEI AUREA?

Cara! Você me perguntou sobre o que acho de você.
Acho que, na verdade, você não quer saber a verdade. Tem esperança de que eu possa elogiá-lo, dizer que está certo e incentivá-lo a prosseguir como é. Infelizmente não é assim e não vou me negar a dizer como te vejo.
Você nasceu numa família muito pobre, mas, ao contrário dos outros, não se conformou com isso e aproveitou o talento pra negócios e a maleabilidade do escrúpulo para conquistar o que achava Ter direito.
Depois de aprender a ler, escrever e as operações aritméticas, dedicou-se a usar as características inatas para conquistar o que queria.
Enxada, foice, facão e machado, deixaram marcas em suas mãos. A lida com gado foi o que mais te atraiu, embora você não fosse bom em nenhum desses trabalhos. Fazia por necessidade, mas não via a hora de se livrar deles.
O talento comercial te levou a intermediar alguns negócios e a ganhar bem mais com isso do que com o trabalho braçal.
Ganhar o máximo e gastar o mínimo, empenhando-se a fundo no trabalho e nos negócios; te possibilitou acumular capital que, aplicado com esperteza, foi aumentando e te tornou rico.
O moleque pobre que muitos duvidavam pudesse dar algo que prestasse, se tornara um homem rico e saboreava o poder do dinheiro.
Você nunca considerou que suas conquistas se deviam a características inatas como: talento comercial e maleabilidade de escrúpulos, associados ao que chamam de sorte. Acredita que tudo o que conquistou se deve ao trabalho, dedicação, economia e perseverança. Seu pai, irmãos, parentes e vizinhos, trabalharam muito mais e melhor que você e não conseguiram ganhar mais que o sustento com isso. Você mesmo, compare o que ganhou como trabalhador braçal com o que os negócios lhe propiciaram e perceberá a influência da sorte no seu sucesso. Sorte de Ter talento para o comércio, de não ser impedido por escrúpulos, de estar no lugar certo na hora certa. Quantos bons negócios você fez porque alguém, desesperado pela falta de dinheiro, vendeu por preço muito abaixo do valor real o que você tinha dinheiro pra comprar. Além de se aproveitar da desgraça do coitado, você acreditou que o estava ajudando quando, na verdade, você lucrava alto com a desgraça alheia.
Você acredita que se fez, que é o único responsável pelo seu sucesso. Não considera que tenha sido beneficiado por nascer com características diferenciadas que te facilitaram conseguir o que pretendeu. Você, realmente, é diferenciado da maioria, mas isso te foi dado. Se você tem algum mérito, é o de Ter aproveitado bem o que te foi facilitado. Mesmo assim, pode ser que o que te deu essas características te tenha programado para utiliza-las e, nesse caso, nem o mérito do aproveitamento você tem.
É provável que a causa do teu sucesso seja a combinação do que você chama de incapacidade alheia com a sua capacidade. Se não fosse a deficiência dos outros, não sei se sua capacidade seria suficiente para conseguir o que conquistou.
O dinheiro tem sido o teu chicote. Ele submete quem trabalha pra você, aceitando suas imposições por medo de perder o trabalho. Submete quem comercializa com você e tem medo de perder o lucro que pode Ter. Submete familiares e amigos que se beneficiam do que você pode oferecer com o dinheiro, mesmo que paguem alto preço emocional e moral por esse benefício.
Você acredita que os bons peões das tuas fazendas só o são porque trabalham pra você, o mesmo acontecendo com qualquer um que te serve. Você não percebe que quem é bom é, independente de você. Você, ao contrário, dificulta que seus colaboradores usem toda sua capacidade, ocupando-lhes a mente com emoções ruins e, principalmente, medo.
Você usou toda sua capacidade para aprender a ganhar dinheiro, acreditando que todo o resto poderia ser comprado. Deixou de aprender a complexidade da emoção, sua autonomia; a força da vontade e suas conseqüências, a importância da humildade e da solidariedade e os prejuízos causados pela prepotência e pelo egoísmo.

Sem dinheiro você não é nada. Só aprendeu a ganhá-lo e administrá-lo, acreditando na sua onipotência, que tudo pode ser comprado e, portanto, nada teria mais valor que ele. Ele não evitou a morte de seus pais, não impediu que tua mulher te trocasse por outro, nem fez com que teus filhos te amassem de verdade.
Tua grande vantagem é acreditar que a admiração, respeito e reconhecimento que te dirigem são verdadeiros. Não percebe que são interpretações interessadas em usufruir do teu dinheiro e evitar tuas agressões.
Quantas das pessoas que, hoje, participam do teu universo, te acompanhariam caso você se tornasse humilde e solidário, julgasse com base em reflexão e análise de dados, considerando a influência da vontade e emoção nos indivíduos?
Essa mudança te obrigaria a reconstruir teu universo e não me parece que você seja capaz disso. Portanto, o melhor pra você é continuar acreditando que é o oposto do que pensam de você. Afinal, o que importa é o que cada um sente e, se você se sente bem assim, bom proveito.
Ele nunca mais quis me ver, nem ouvir falar de mim. No lugar dele eu faria o mesmo.

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