quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

certo ou errado?

Há como julgar o certo ou errado no comportamento e modo de viver das pessoas?
Todos temos valores e padrões que orientam nosso comportamento e modo de viver, conseqüentemente, eles nos sevem de parâmetro para julgar os outros. Se vivemos segundo esses padrões e valores, é porque os consideramos certos, portanto, o que os contrariar, estará errado.
Por outro lado, esses valores e padrões, muitas vezes, são estabelecidos por preconceitos e os aceitamos sem questioná-los. Grande parte deles têm origem social e religiosa, enquanto, outros, se originam no egoísmo, comodismo e na preguiça.
Julgamentos baseados nesses parâmetros, dificilmente serão justos.
Não bastasse a irracionalidade de muitos parâmetros, o julgamento sofre grande influência da emoção. Portanto, o veredicto, além da distorções dos parâmetros usados, depende do estado emocional de quem julga. Some-se a isso s facilidade que temos para criticar e condenar, e as chances de um julgamento justo se situam muito próximo do impossível.
O que importa ao indivíduo é o que ele sente: prazer, alegria, ternura, amor, raiva, revolta, tristeza, melancolia, ódio, etc. Ainda que a racionalidade mostre com clareza o quanto aquele sentimento seja prejudicial ao próprio individuo ou a terceiros; ele prevalecerá e exigirá grande esforço para ser combatido, se o indivíduo decidir pela racionalidade.
O objetivo da vida é a felicidade e, esta, é resultado da satisfação de vontades. Portanto, é natural que o indivíduo sinta felicidade quando satisfaz vontades e, infelicidade, quando não consegue satisfazê-las ou a satisfação se mostra frustrante.
Pode-se considerar que a vida é como uma corrente formada de elos de tamanhos e de valores diferentes. Elos minúsculos, pequenos, médios, grandes ou enormes; de ferro vagabundo, cobre, bronze, prata, ouro, platina, até o mais precioso material que possa existir. A corrente é contínua, mas os elos variam em tamanho e valor, representando felicidade ou infelicidade, prazer ou sofrimento, nas mais variadas sensações.
Não dá pra saber se essa corrente vai sendo construída à medida que vamos vivendo, se já está pronta e só nos resta segui-la, se algo desconhecido interfere na sua construção, qual o nível de independência que temos para construí-la ou modificá-la. O que parece certo é que ela é contínua e os elos anteriores interferem nos seguintes.
Há pessoas que vivem segundo parâmetros bastante rígidos, evitando grandes variações. Um exemplo, desses, é o de religiosos que se submetem a rotinas de vida extremamente rígidas, muitas vezes, vivendo confinados, sem maior contato com a sociedade, em verdadeira clausura. Entre esses, é comum a auto-flagelação para tentar expulsar vontades, emoções e sentimentos que contrariem os valores que escolheram seguir e possam interferir na rotina a que se submetem. Isso evidencia a força e o poder da vontade, emoção e sentimentos. Essas pessoas se esforçam para que os elos da sua corrente sejam homogêneos em tamanho e valor; tentando diminuir os maiores, aumentar os menores e homogeneizar o material que os constitui. Essas pessoas conhecem bem os sacrifícios que têm que fazer para enfrentar as forças que tentam desviá-las de seus objetivos.
Em contrapartida, há pessoas que vivem como barcos a deriva, levadas por vontades, emoções e sentimentos, sem racionalidade, sem avaliar conseqüências.
Os que vivem lutando para manter a disciplina de rotinas e os que vivem a mercê de vontades, emoções e sentimentos; representam os extremos de uma gama enorme de possibilidades. Entre esses extremos existe um ponto médio onde se situam aqueles que conseguem um equilíbrio entre emoção, vontade, sentimentos e racionalidade; onde a análise do fator custo/benefício é fundamental para a tomada de decisões; É de se considerar que o número dessas pessoas deve ser muito pequeno.
Para justificar o que foi dito, nada melhor que exemplos reais.

Homem honesto, trabalhador, respeitador de mulheres, crianças e velhos; vivendo para a mulher e os filhos, abstendo-se de diversões, considerando que o dinheiro e energia gastos ali eram puro desperdício. De casa para o trabalho e do trabalho para casa, era a rotina desse homem. Nada de aventuras, nem de farras. Só conhecia o mundo pelo noticiário e se divertia torcendo pelo seu time. Trabalhava para o sustento da família e, o pouco que sobrava, investia na melhoria da casa e algum conforto para a família. Era admirado pelas mulheres, principalmente por aquelas cujos maridos viviam dando motivos pra ciúmes e gastavam um bom tempo e dinheiro em bares e outras diversões. Era admirado, mas, dificilmente, desejado. Era admirado, até, fisicamente, no entanto, não era desejado, não despertava paixões, era insosso, sem graça. Não oferecia perigo e era totalmente previsível. Como profissional cumpria seus deveres sem destaque, sem progresso, contentando-se com o suficiente. Era um homem bom.

Outro cara, não admitia ser igual a maioria. Sentia uma necessidade incontrolável de ser diferente, precisava ser admirado, estar na ribalta o máximo de tempo possível. Tinha um talento incrível para contar estórias que, claro, não teriam a menor graça se não fosse pelos detalhes quase absurdos que criava. Aliás, classifico-as como estórias e não histórias, porque era isso que eram. Embora ele pretendesse fazer crer que eram histórias, a maioria não passava de mentiras inventadas, baseadas em fatos reais que não contribuíam nem com dez por cento do que ele contava. Era muito admirado e capaz de reter a atenção de pessoas por longo tempo, ouvindo o que dizia. Era um aventureiro e vivia desafiando o perigo, não tanto o físico, mas, principalmente, o moral. Corria atrás de satisfazer suas vontades sem medir conseqüências, muito menos, os prejuízos que poderia causar a terceiros. Mãe, irmã e outros parentes, sentiram forte o que era sofrer as conseqüências do que ele aprontava. Saia das enrascadas, depois de causar grandes danos, como se nada tivesse acontecido e, logo depois, já estava se atirando em outra aventura, desconsiderando, novamente, as conseqüências. Sua capacidade de iludir as pessoas, granjeando admiração e conquistando algumas vítimas para as próximas investidas; facilitavam-lhe desconsiderar os que o desprezavam e, até mesmo, odiavam, pelo que tinham sofrido por causa dele. Passou a vida conquistando admiradores e frustrações. Em contrapartida aos poucos sucessos conseguidos, que foram efêmeros; soma-se um número bastante alto de fracassos. Sofrimento e frustrações. Tinha grande capacidade racional, mas só a usava para defender o que pretendia, argumentar em sua defesa e justificar suas safadezas. Sem dúvida nenhuma, teria sido um grande dramaturgo e ator, comovendo platéias, distraindo-as e divertindo-as. No entanto, quis fazer da vida a sua ribalta.

MEMÓRIA

Tô pra ver “trairagem” maior do que a da minha memória contra mim.
Passei a vida colocando coisas ali. Foram muitas. Experiências do dia a dia, conhecimentos proporcionados por pessoas, escolas, meios de comunicação, livros, emoções, sentimentos, etc.
Será que ela resolveu se vingar por considerar que exigi muito dela?
Ela sempre foi meio esquisita, dificultando o armazenamento de nomes de pessoas. Não era o nome que ela dificultava armazenar, mas, sim, a relação dele com a pessoa. Logo depois de saber o nome da pessoa, já não sabia como chamá-la. Esse tempo, as vezes, não passava de minutos. “Muito prazer, fulano de tal” e, minutos depois, eu não lembrava, nem fodendo, o nome do fulano de tal.
Outra dificuldade, sempre foi guardar detalhes fisionômicos. Nunca conseguiria fornecer informações para um retrato falado, nem de mim mesmo; nem das pessoas que mais amei, por mais que admirasse sua figura.
Fórmulas? A memória sempre se negou a armazená-las, obrigando-me a deduzi-las a cada vez que precisava usá-las. A safada se negava a armazenar as fórmulas, mas armazenava dados que me permitiam deduzi-las. Será que era só pra me dar trabalho?
Muitas vezes não soube a minha própria idade, tendo que calculá-la. Também nunca soube a idade de minhas filhas.
A filha da puta não me permitia lembrar as fórmulas, no entanto, não me deixava esquecer o quanto eu iria me foder se não resolvesse as questões. Eu lhe pedia uma fórmula que havia colocado ali, e ela me mostrava o prejuízo que sofreria em conseqüência de me negar o que lhe pedia. É muita sacanagem”
Ela não se contenta em me negar informações que coloquei nela; ocupando meu pensamento com lembranças que me maltratam e fazem mal.
É claro que ela não está sob meu comando pois, se estivesse, esconderia os dados que me fazem sofrer e sentir mal, disponibilizando os que me ajudariam. Facilitando minha vida e me fariam feliz.