quarta-feira, 10 de outubro de 2007

AUTO FLAGELO?

Haveria alguma maneira de alterar o comportamento dos indivíduos, eliminando muitos dos problemas e melhorando as chances de felicidade?
É razoável considerar a necessidade de identificar os problemas que geram sofrimento e as fontes de felicidade, listando e classificando.
O que leva o indivíduo a roubar, ser corrupto ou apropriar-se, de qualquer outra maneira, do que não lhe pertence ou a que não tem direito?
- Insegurança quanto ao futuro
- Super-valorização de bens materiais
- Ansiedade, pressa em conseguir o objetivo
- Preguiça, indisposição para fazer o necessário
- Super-valorização dos direitos e desprezo pelos deveres
- Egoísmo
- Vaidade

INSEGURANÇA QUANTO AO FUTURO
O medo de não ter como enfrentar problemas de doenças, de não ter um mínimo de conforto na velhice ou de enfrentar dificuldades com a própria sobrevivência; forçam o indivíduo a acumular riqueza, tentando capacitar-se para enfrentar dificuldades futuras. Por ser impossível imaginar que tipo de dificuldades poderemos enfrentar, é impossível estabelecer quanto seria necessário para enfrentá-las; isso leva o indivíduo a tentar acumular o máximo possível.
Uma sociedade que garantisse a sobrevivência, o atendimento à saúde e um mínimo de conforto, quando o indivíduo não tivesse mais como consegui-lo por seus próprios meios; o desobrigaria da necessidade de acumular.
É evidente que só uma minoria consegue acumular capital significativo e suficiente para enfrentar qualquer tipo de dificuldade. Um número maior, mas ainda muito pequeno, consegue garantir o futuro desde que não lhe aconteçam coisas excepcionais. A grande maioria dos indivíduos fica como um barco a deriva: totalmente exposto aos acontecimentos, sem condições de socorrer-se.
Parece que o razoável é um sistema de previdência social, onde todos os indivíduos contribuam para um fundo que garanta um mínimo de dignidade ao indivíduo até a morte. A despreocupação com o futuro, pode aliviar em muito os problemas que afligem o indivíduo, evitando que tente se apropriar do que não tem direito e que gera grandes prejuízos a terceiros e à sociedade como um todo.

SUPER-VALORIZAÇÃO DE BENS MATERIAIS
A crença de que tudo pode ser comprado e de que a felicidade depende do que se pode comprar; provoca o indivíduo a conseguir o máximo possível de bens materiais.
Quem não consegue se contentar com o que pode conseguir com seu esforço próprio, dedica-se a explorar terceiros ou a apropriar-se indevidamente do que pretende ou dos meios para consegui-lo.
Muitos dos bens que o indivíduo persegue, quando conseguidos, se mostram insatisfatórios e não geram a felicidade esperada. Esse tipo de frustração é mais comum do que a maioria percebe. É um grande desperdício de esforços que, com alguma racionalidade e aproveitamento de experiências alheias, poderia evitar, diminuindo a pressão por conquistas.
Os restos de comida jogados fora, o descuido com roupas e calçados, o mau uso de energia e água, são exemplos de desperdício de esforço para conseguir mais do que é necessário. O consumo racional propiciaria economizar esforços ou dirigi-los para outras necessidades.
Acumular quantidades exageradas de roupas e calçados é outro exemplo de desperdício de esforço para consegui-los. A maioria de quem faz isso é porque o esforço empenhado para conseguir essas coisas não é o seu.
Felicidade ou infelicidade são resultado de sentimentos. Conquistas materiais podem causar sentimentos felizes ou frustrações, no entanto, amor, ódio, amizade, depressão, euforia, etc., podem acontecer independente de qualquer bem material. Os bens materiais podem ajudar ou prejudicar esses sentimentos, mas dificilmente são a causa principal. A não compreensão disso, desvirtua os valores e desvia os caminhos que possibilitam atingir os objetivos.
Não depende do indivíduo o surgimento de um grande amor ou de uma grande amizade, nem a manifestação de depressão ou euforia. Talvez, para não sentir-se impotente, o ser humano se dedique a conquistar bens materiais, convencendo-se que pode determinar sua vida, desconsiderando influências misteriosas que o atingem, gerando sentimentos, independente de sua vontade. Essas influências misteriosas são evidentes e qualquer indivíduo tem exemplos pessoais que as comprovam. Por que é tão difícil aceitar isso?

ANSIEDADE, PRESSA EM CONSEGUIR O OBJETIVO
A ansiedade impele o indivíduo a tentar satisfazer de imediato suas vontades. Ela dificulta a racionalidade e a avaliação moral. Ela quer e faz tudo para eliminar qualquer coisa que se oponha a esse querer, principalmente, a análise custo/benefício.
Descontrolada, a ansiedade leva o indivíduo a praticar os maiores absurdos, dominado pela prepotência e pelo egoísmo.
Estudar para conseguir um bom emprego, que propicie um bom salário, que permita adquirir um bem desejado; é um caminho desprezado pela ansiedade. Ela quer o bem agora, sem considerar as dificuldades, sem avaliar se a conquista propiciará satisfação ou frustração. Ela quer, e ponto final.
A ansiedade causa grande mal estar, domina o pensamento, impulsionando o indivíduo a satisfazer a vontade rapidamente. Ela é grande incentivadora do roubo, corrupção e todo tipo de falcatrua.

PREGUIÇA, INDISPOSIÇÃO PARA FAZER O NECESSÁRIO.
A indisposição para atividades físicas e intelectuais fazem com que o indivíduo despreze seus deveres, sem abrir mão de seus direitos. Preguiça mais ansiedade, aniquilam a racionalidade e os valores positivos da moral.

EGOÍSMO
Ele é a super-valorização dos direitos e total desprezo aos deveres. Não importa que um pequeno benefício provoque custos altíssimos a terceiros. A prepotência costuma ser grande companheira do egoísmo. É uma dupla altamente prejudicial que, associada à ansiedade, formam um conjunto altamente destrutivo, causador de grandes prejuízos e sofrimento. São uma porta escancarada a tudo que é ilícito.

VAIDADE
O desejo de sentir-se poderoso e admirado, sem a disposição para consegui-lo por meios lícitos, é grande incentivo para distorções morais. É difícil que alguém não goste e deseje ser admirado, quando isso for resultado de reconhecimento de qualidades positivas. Quando o indivíduo acredita que só pode ser admirado através do poder, suas ações serão sempre prejudiciais.
Muitas pessoas acreditam no poder da estética e se consideram amadas quando só despertam desejo. Um homem que ama uma mulher feia, poderá ser atraído pela beleza de outra mulher, mas não a amará nem deixará de amar a feia.
Um homem poderoso atrairá muitos bajuladores, mas dificilmente merecerá admiração sincera.

Tentando motivar, incentiva-se a competição. Em contra partida à motivação conseguida, é enorme o sofrimento e prejuízos resultantes da competição.
O capitalismo incentiva o consumo, justificando que ele gera trabalho e, conseqüentemente, renda. Diminuindo a necessidade de bens, diminui a necessidade de renda e, conseqüentemente, de trabalho.
Se a renda não for a motivação do trabalho, este poderá gerar benefícios reais, aplicado em prioridades, priorizando bem estar e felicidade.
A cooperação pode diminuir sensivelmente a necessidade de consumo. Eletrodomésticos comunitários poderiam diminuir em muito a necessidade de posse particular. Liquidificadores, batedeiras, multiprocessadores, máquinas de lavar e de costura, etc. teriam aproveitamento muito maior quando compartilhados por grupos de famílias, incentivando a solidariedade, combatendo o egoísmo, valorizando os direitos e deveres e a justiça na sua consideração. Muitos outros equipamentos e máquinas poderiam ser compartilhados, diminuindo a necessidade de consumo.
A cooperação obriga o convívio que gera conflitos e força soluções. O isolamento alimenta hipocrisia, camuflando conflitos, dificultando soluções, alimentando ódios e desejo de vingança.
A grande hipocrisia da sociedade está em defender a solidariedade, enquanto incentiva o individualismo egoísta e a competição.
As pessoas se deixam iludir pela aparência, desprezando os sentimentos. Ao mesmo tempo que o luxo e a ostentação chamam a atenção, intensamente, muito poucos atentam para os sentimentos de quem ostenta. O empregado vê o patrão chegar em carro de luxo, vestindo roupas de grife, freqüentando festas e restaurantes de luxo, mas não percebe o medo que pode estar sentindo, a falta de afeto, de amor; as angústias, frustrações e desilusões. Enquanto o empregado se diverte, na hora do almoço, com os companheiros; o patrão pode estar chorando sofrimentos sentimentais, que não demonstra, mas tem. Enquanto o empregado reclama da falta de dinheiro, o patrão morre de medo de perder o que tem e o não poder desfrutá-lo a contento.
Se os verdadeiros sentimentos dos poderosos fosse conhecido de todos, provavelmente o desejo de poder não atingiria tantas pessoas. Nem os próprios poderosos tem consciência de que a causa de suas conquistas podem ser as mesmas que causaram sua infelicidade. Que a luta para manter o conquistado, pode alimentar seu sofrimento.
O fato é que: sem a ajuda dos poderosos dificilmente se conseguirão mudanças substanciais na sociedade. A maior arma dos poderosos é a educação, através da qual os explorados são preparados para sê-lo e, até, para colaborar e tornar mais eficiente a exploração.
Uma educação que preparasse o indivíduo para conhecer-se, identificar suas características e talentos, preparando-o para assimilar conhecimento, compreendendo-o ou questionando-o; respeitando os direitos e deveres; sabendo das forças misteriosas que costumam influenciá-lo, capacitando-se para enfrentar as que lhe forem prejudiciais; possibilitaria mudanças para uma sociedade mais feliz e com menos problemas.
No entanto, essas mudanças afetariam o sistema de forças hoje existentes, provocando os detentores do poder a opor-se ao que pudesse causar isso.

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