terça-feira, 6 de maio de 2008

Medo da morte?

MEDO DA MORTE?
Continuo lendo o livro “A última grande lição” escrito por Mitch Albom, a respeito da doença (ELA) de Morrie Schwartz.
São relatos, impressões e sentimentos sobre um cara que sabe que vai morrer, que vê e sente seu corpo “desminingüíndo” , que busca valorizar o que lhe resta de vida, tentando aproveitá-la para ensinar, chamar a atenção para valores normalmente desprezados, orientar, confortar e distribuir esperanças. Não consigo deixar de pensar que esse comportamento do Morrie objetive valorizar-se, merecer admiração, possibilitando permanecer por mais tempo e com mais força na lembrança das pessoas. Afinal, quem é que não gosta disso?
É interessante verificar a importância da vaidade pro indivíduo. O ser admirado é mais importante que a própria vida biológica. Imaginar que vai ser admirado, mesmo quando o físico não existir mais é muito atraente e causa enorme prazer. Isso é uma prova de que a vida é muito mais que células orgânicas que, no fundo, só servem para a criação de sentimentos e emoções que constituirão uma história. Acho que a história é o resultado da vida e que, depois de construída, o corpo que a propiciou é totalmente dispensável.Pode-se dizer que o corpo é como a forma de terra que serve para fundir a estátua de bronze: depois da fundição, a forma é desfeita, enquanto a estátua permanecerá por longo tempo.
É uma pena que tantas formas não atendam o objetivo e sejam descartadas vazias, ou preenchidas por materiais que não sobrevivem a elas.

A maioria das pessoas passa a vida buscando acumular capital para, depois, realizar satisfações pessoais. A maioria não consegue acumular nada e todo seu esforço é consumido pela sobrevivência.
A aposentadoria é considerada, pela maioria, o final da obrigação e o começo do desfrute que, no entanto, não acontece por falta de capacidade para realizá-lo. É natural que esses repudiem a morte, pois ela representa o final da esperança do desfrute que não aconteceu. Pra eles, a morte representa o fracasso, a frustração, o sentimento de não haver vivido.
Muitos desses sabem que não conseguiram fazer o que gostariam ter feito, limitando-se a criticar os que fizeram, aumentando os obstáculos que os impediram de realizações emocionais.
O empenho em garantir o futuro os impediu de aproveitar o presente, de aproveitar o amor quando ele estava incendiado, de beijar os filhos quando transbordavam de ternura, de chorar e rir com a sinceridade das amizades, de desfrutar o prazer de ajudar desinteressadamente, de lutar por interesses alheios, por justiça e por ideologias.
Esses tem razão de sobra pra temer a morte que lhes mostra o que não fizeram, não realizaram, nem mesmo tentaram. Ela os ameaça com o ostracismo, com lembranças vagas de alguém que passou..., que só passou pela vida.
Pra quem não se deixou escravizar por desejos mesquinhos, egoísmo e prepotência; a vida continua após a morte, mesmo que não existam céu, inferno, purgatório, reencarnação ou qualquer outro tipo de existência extra-terrena.

domingo, 4 de maio de 2008

DESAPEGO

DESAPEGO
No final da primeira parte do livro “A última lição”, Morrie fala a Micht sobre a necessidade do desapego. Diz que é necessário ir fundo na emoção, vivenciá-la intensamente pra, depois, desapegar-se dela. Mergulhar no amor, no medo, senti-los intensamente, conhecê-los profundamente e, depois desapegar-se.
Pra mim, desapego é desfrutar sem a necessidade de possuir. É admirar a beleza da flor, sentir-lhe o perfume, sem colhê-la, deixando-a onde está, numa praça, no nosso quintal, ou em qualquer terreno que não nos pertença. É sentir o prazer de navegar em um barco que não nos pertence. Passar um final de semana em um sítio ou casa de praia que não possuímos, mas que podemos usar. É amar uma criança, independente de que seja nossa filha. É amar uma mulher enquanto for possível, enquanto ela nos quiser, sem ter que aprisioná-la, sem obrigatoriedade, só enquanto ela nos quiser pelo prazer de estar conosco. É trabalhar e lutar por realizações, independente de conquistas materiais que possam resultar. É livrar-se de preconceitos, defender idéias e mudar de opinião quando a racionalidade indique essa necessidade. É saber que não existem verdades absolutas.
Desapego é perceber que a vida não nos pertence, que nos foi dada sem perguntar se a queríamos e que nos será tirada sem nosso consentimento.
Desapego é perceber a limitação da nossa capacidade, usando-a, sem pretender mais do que ela pode.
Se você é dos que valorizam muito mais o possuir do que o desfrutar; deve ser um sofredor. Que pena!