segunda-feira, 30 de junho de 2008

ADMIRAVELMENTE ESPETACULAR!

Cara! Você já prestou atenção no que a medicina tem feito?
Vacinas contra vírus de várias doenças, protegendo pessoas, evitando sofrimento e morte.
Re-implante de membros ou parte deles, afetados por esmagamentos, cortes ou outros traumas.
Muitos tipos de câncer já são mais causa de susto do que de morte e são curados com relativa facilidade.
A poliomielite, que vitimou tantas crianças, gerando deformidades que acompanharam adultos por toda a vida; já faz parte da história e está sob controle.
Tuberculose e gripes já não são grandes encaminhadoras de clientes para os cemitérios.
E os transplantes, então! Trocam-se órgãos de um indivíduo pra outro como já se trocavam partes de um carro pra outro. Trocam corações como se fossem motores; rins como se fossem câmbios, córneas como se trocavam as lentes de um farol quebrado. Quem poderia acreditar em um desmanche de defuntos pra recuperar indivíduos doentes?
A engenharia se associou à medicina e uma porção de tipos de próteses propiciam que indivíduos nem se lembrem direito de que usam partes artificiais do corpo. São peças que desobstruem artérias e as mantém abertas, marca-passos para o coração, junções metálicas para ossos, membros artificiais que chegam a funcionar melhor que os originais. A artificialidade não se limitou às necessidades vitais ou de movimento; chegou à estética, aumentando bundas e peitos com silicone; diminuindo barrigas, bundas, peitos e excessos de outras regiões com lipo-aspirações e outros artifícios. Peles esticadas, cabelos implantados, desenhos mudados; em fim, parece não haver limite para as possibilidades.
Eles não se limitaram a trabalhar com indivíduos vivos ou mortos; passaram a interferir na própria criação da vida; fazendo fertilização in-vitro, desenvolvimento de fetos em úteros emprestados, curando impotência, frigidez e infertilidade.
Chegou a hora de manipular células capazes de assumir características de outras, doentes, substituindo-as e corrigindo os problemas que aquelas criavam.
Tudo indicava que o homem estava superando seu próprio criador,
O progresso era tão espetacular que camuflou uma evidência fundamental: o corpo humano é só uma parte do indivíduo e, para que ele funcione, é necessário algo invisível até aos equipamentos mais sofisticados e imcompreensível até às mentes mais privilegiadas. Se essa coisa não quiser, não há capacidade humana capaz de contradizê-la. Não há o que possa evitar a morte, por mais adiada que seja pela capacidade humana.
Enquanto a medicina realiza feitos extraordinários, espetaculares, até; não consegue controlar gripe, dengue, malária e outras doenças que, não sendo consideradas graves, costumam propiciar, a alguns indivíduos, livrar-se dos problemas terrenos antes do que esperavam.
Está claro que todo o conhecimento e tecnologia disponíveis são incapazes de controlar microscópicos seres, e interferir em sistemas que a ciência alega conhecer com detalhes.
É incrível a quantidade de teorias, detalhamento e minúcias de detalhes que elas apresentam a respeito do corpo humano, sistemas e órgãos. No entanto, doenças degenerativas como: Alzimer, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica; seguem acometendo indivíduos, a quem a ciência não tem como ajudar, assistindo seu definhamento sem poder interromper o processo fatal, nem os estragos que ele ocasiona.
Se considerarmos que a natureza foi criada milhões de anos antes do homem, sequer, pensar em ciência; é compreensível que ela saiba tão pouco, mesmo propiciando o espetáculo que encanta e nos faz acreditar que é extremamente poderosa.
Admiravelmente espetacular é a capacidade de quem, ou do que, criou a natureza que, de sobra, conseguiu encerrar em mistério as possibilidades dos seres humanos conhecê-la e interferir nela, além do que lhes é permitido.
Pois é cara! Ainda bem que o ser humano não tem capacidade pra submeter a natureza à sua vontade. Sem pensar no resto, já pensou se não morresse mais ninguém, continuasse nascendo gente e os problemas acabassem?
Que graça teria a vida?
Se tendo o ruim como referência as pessoas já não valorizam suficientemente o bom, imagine que valor este teria sem a existência daquele!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O MEDO DAS DOENÇAS MATA MAIS QUE ELAS

É muito grande o número de pessoas que deixam de viver por medo de morrer. A pesquisa científica tem grande responsabilidade sobre isso. Os profissionais de saúde costumam usar essas pesquisas pra aterrorizar seus pacientes, receitando restrições, abstinências e proibições; valorizando muito mais os riscos do que os prazeres que algo possa causar.
Desconhecendo as verdadeiras causas que provocam as doenças, os profissionais de saúde e os cientistas, acusam motivos que podem contribuir pra elas, mas que não são o principal. Fumo, álcool, drogas, gorduras, pimentas; por exemplo, tem sido bodes espiatórios de muitas doenças. Aponta-se os doentes que consumiam esses produtos como evidência dos males que causam. Não consideram os consumidores que, mesmo consumindo as mesmas coisas, não adoeceram. Nas estatísticas, o número dos atingidos é sempre muito menor que os não, mesmo assim, a minoria tem força muito maior que a maioria. Incrível! Não?
A humanidade, principalmente os cientistas, precisam compreender que o mistério é muito maior que o conhecimento.
Tenho a impressão de que quem conhece tudo, brinca de enganar o ser humano, permitindo-lhe descobrir algumas coisas, para entretê-lo, aliviando-lhe a curiosidade. No entanto, sonega o principal que, por algum motivo, não tem a intenção de revelar. Se ele pode criar tudo e quisesse que não houvesse mistério, teria equipado o homem com esse conhecimento. Se ele não quer revelar, terá o homem capacidade pra contrariá-lo e descobrir o que ele não quer revelar?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

ELA: conhecimento X especulação

ELA: conhecimento X especulação?
Senhor Deus, desculpe estar incomodando novamente, mas aqui está difícil encontrar respostas, por isso me dirijo ao senhor.
Como o senhor não respondeu as outras cartas que lhe mandei, acho que não vai responder esta também. Não faz mal. Se é pra ser desconsiderado, ter as idéias desprezadas e ser considerado um pentelho que só enche o saco; é melhor que seja por alguém que tenha um conhecimento infinito e um poder inquestionável. Tô de saco cheio de ser desrespeitado por seres humanos que se consideram oniscientes e onipotentes, pretendendo superá-lo, saber mais e poder mais que o senhor.
Como o senhor sabe, estou com ELA (esclerose lateral amiotrófica). Falando nisso, o senhor gostou do nome que deram pra essa doença que o senhor criou? Pomposo né? Então, quando diagnosticaram que eu estava com ela, disseram o nome e me disseram que os neurônios iam morrendo, desativando os nervos que, conseqüentemente, deixavam de estimular os músculos, provocando a atrofia deles. Acreditei que eles conheciam intimamente a doença. Quando disseram que ela não tinha cura, nem mesmo possibilidade de ser detida; aceitei o veredicto como sendo resultado de conhecimento suficientemente questionado e comprovado.
Me submeteram a exames de sangue, tomografias, ressonâncias magnéticas, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionismo e eletroneurografias. Os resultados não apresentavam “defeitos”. A única indicação de que havia uma doença eram os sintomas: a fraqueza e a atrofia muscular.
Foi aí que percebi que a ELA é identificada pela falta de outros motivos que justifiquem a anomalia. Eles não conseguem detectá-la em exames, quer dizer: se não existem outras causas, então, é ELA.
Ora, algo que não pode ser identificado diretamente, não pode ser afirmado com segurança!
Ah Deus! Não sei por que o senhor me equipou com essa mania de questionar, impedindo-me de aceitar o que me informam, pura e simplesmente.
Olha a merda feita! Ao invés de aceitar a explicação dada pelos médicos e pelos sites especializados na internet, tive a atenção despertada pelo fato de que os movimentos eram comandados, que os músculos obedeciam à minha vontade, embora lhes faltasse energia pra realizar o trabalho pretendido. Por exemplo: se eu pretendia levantar um peso de vinte quilos, eles só conseguiam levantar dez, mas, os dez, eles levantavam sem maiores problemas. Então, não havia falta de comando! Pelo menos os nervos encarregados dos comandos estavam funcionando. Portanto, esses nervos estavam ativos e não poderiam ser acusados pela atrofia dos músculos que comandavam.
O que era evidente, era a falta de energia pra realizar o trabalho. Bom, se não eram os nervos motores a causa da atrofia, o que poderia ser?
Pensei que, como todo o organismo, os músculos se servem dos nutrientes retirados dos alimentos, que chegam até eles pela corrente sangüínea. Até aí tudo bem, pois aprendi isso em biologia. O que não me lembro de ter aprendido é como o músculo transforma o nutriente em energia.
O senhor não poderia ter criado um sistema mais simples, que a gente pudesse entender com mais facilidade?
Bom, aí me lembrei que muita gente faz musculação em academias pra ficar musculoso, isto é, aumentar a massa muscular. Portanto, o aumento dessa massa depende de exercícios, isto é, trabalho muscular. Lembrei, também, que quando a gente quebra um braço e ele é engessado, a imobilização causa atrofia dos músculos, quer dizer, diminuição do tamanho, perda de massa. Portanto, a massa muscular depende de nutrientes e de trabalho. Como a energia tem uma relação com a massa muscular, a diminuição desta ocasiona a diminuição daquela.
Tá vendo? Olha o tamanho da complicação!
E o pior, é que isso é o que a gente percebe, no entanto, como é que esse negócio funciona? Como é que o músculo absorve nutrientes, aumenta a massa muscular, gera energia e realiza trabalho?
Quando questionei alguns médicos, mostrando que os comandos nervosos estavam funcionando e, portanto, não poderiam ser a causa da atrofia; eles alegaram que, além do comando, os nervos se distribuem pelo músculo, em grande número de terminais nervosos que o estimulam.
Como eu não tivesse ficado satisfeito com a explicação, fui procurar na internet mais informação e encontrei a seguinte: Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em várias fibras para poder controlar todas as células do músculo, através da placa motora.
Bom, se é o nervo motor que se divide em várias fibras para controlar as células do músculo e, se o nervo motor continua ativo, o problema deveria se localizar na ramificação e não na origem do nervo. Pra que o problema estivesse na origem, os terminais que controlam as células não poderiam ser ramificações do nervo motor e, sim, vindos diretamente do cérebro ou da medula.
Sabe, Deus, o problema é que os que dizem ter o conhecimento, não conseguem explicá-lo. Não sei se é por má vontade ou por incapacidade, ou, por incapacidade minha de entender. Só sei que, até agora, não consegui explicação razoável que me permitisse compreender o processo de energização do músculo.
No mesmo site em que encontrei a explicação acima a respeito da divisão do nervo motor, encontrei a explicação abaixo que se refere à produção da energia pelo músculo.
Como as outras células, as fibras musculares produzem energia por meio de reações de combustão. Devido a intensa atividade para proporcionar movimento e calor ao corpo, as fibras musculares necessitam de grande quantidade de energia (creatina fosfato, carboidratos, gorduras e proteínas).
Achei interessante a informação, nesse mesmo site, a respeito do ácido lático: Em um dos processos do metabolismo energético o organismo produz uma substância denominada ácido lático. Dentro das fibras musculares, o ácido lático impede a renovação da energia necessária para a contração do músculo.
Ora, se o ácido lático pode impedir a renovação da energia, por que ele não poderia ser o responsável pela atrofia?
Tá vendo o que o senhor fez? Me equipou com essa mania de questionar e veja no que deu! Tô questionando um monte de cientistas e profissionais da saúde que tem estudado a ELA por mais de cento e quarenta anos. E agora, como é que eu fico? Eles não conseguem me explicar e eu não me conformo em pensar que eles podem saber e eu não consiga compreender. E ai?
Por mais que me pareça absurdo, não consigo deixar de pensar que, esse pessoal todo, não sabe o que alega saber. É absurdo? Pode ser, mas não consigo deixar de pensar nisso. Será que eles não querem, não podem ou não conseguem explicar?
Tá vendo, Deus, o que o senhor aprontou? Se tivesse feito as coisas mais simples, o processo seria mais fácil de ser entendido e eu não precisaria estar, aqui, duvidando do conhecimento alegado por tão honoráveis pessoas.
Pensei em pedir ao senhor que me proporcionasse o entendimento que procuro, no entanto, se não tem respondido nem as cartas que lhe tenho mandado, não posso acreditar que atenda esse pedido. Chego a achar graça das pessoas que acreditam que o senhor atenda os pedidos delas. Se nem cartas o senhor responde, porque não deve ter tempo pra isso, imagine se vai gastar tempo atendendo pedidos de milagres. Se tudo que acontece é resultado de sua vontade, não vai ser um pedido de um simples mortal que o fará mudar o que o senhor mesmo já havia determinado.
Deus, quer saber? Eu fico cada vez mais embasbacado tentando imaginar o tamanho da sua capacidade. Como é que o senhor conseguiu criar coisas tão complexas que, milhares de anos depois, com todo o conhecimento adquirido pelo ser humano, ele ainda continua ignorante diante de tanto que ainda é absoluto mistério?
Não sei se é maior a vontade de rir ou chorar ao verificar que religiosos, cientistas e, até, gente sem maior qualificação; alegue conhecer a natureza, como foi criada, quem a criou, o que pretendeu e como age. Gostaria de saber o porquê de o senhor tê-los feito assim.
Fico imaginando do porque o senhor ter me feito desse jeito: inconformado e questionador. Por que não me fez como a maioria?
Na situação em que me encontro, eu deveria agir como a maioria: buscando milagres, amaldiçoando a causa da doença, rezando pra merecer um lugar bom no além e coisas assim. No entanto, estou aqui, questionando teorias e paradigmas, tentando conhecer as causas de uma doença, sem a menor esperança de me livrar dela, por pura necessidade de compreender porquês, de espicaçar os prepotentes, de tentar demonstrar a importância da humildade e da solidariedade. O senhor poderia ter me livrado disso e livrado aos outros de terem que me agüentar.
Se tenho consciência do mistério que envolve a natureza e a vida, não deveria ter essa obsessão por compreender. Eu não consigo entender o porquê, mas me dobro ao seu poder e acredito que o senhor terá seus motivos pra que seja assim. Se tem que ser assim, que assim seja.
Encontrei, no site já citado, uma frase que, lida sem espírito crítico, dá a entender um grande conhecimento sobre o sistema muscular. No entanto, ela só descreve, por alto, que os músculos são responsáveis pelos movimentos do corpo e que são comandados pelo cérebro. O que acontece por trás dessa cortina já são outros quinhentos, pouco se conhece e muito se especula.
O sistema muscular é capaz de efetuar imensa variedade de movimento, sendo todas essas contrações musculares controladas e coordenadas pelo cérebro.
Como o senhor sabe, afinal, me fez assim; continuo insatisfeito com as explicações recebidas, e não vou desistir de tentar encontrar alguma razoável.
Que dados eu tenho até aqui?
- Evidências:
- Fraqueza muscular progressiva
- Enfraquecendo o músculo atingido
- Atingindo outros músculos com o passar do tempo
- Atuação do nervo motor, comandando movimentos.

- Suposições:
- Como são atingidos músculos em partes diferentes do corpo, parece que a causa seja algo comum a todos eles:]
- Sistema nervoso
- Sistema circulatório

- Dúvidas sobre as explicações recebidas:
- Os terminais nervosos espalhados pelo músculo são ramificações do nervo motor e comandados por ele; ou, independentes, e comandados por outro sistema (diretamente do cérebro)?
- Mesmo com melhora acentuada de quantidade e qualidade da alimentação, não se percebe alteração positiva na energia muscular.
- Como se processa a absorção de nutrientes pelo músculo, como eles são transformados em massa muscular e como é gerada a energia que possibilita a realização de trabalho?
- Existe a possibilidade de gerar massa muscular e conseqüente energia, artificialmente (química ou fisicamente)?
- A eletroneuragrafia consegue identificar com segurança as regiões onde os nervos estão ativos e onde não?

Deus, desculpe tê-lo incomodado mais uma vez, mas como é possível que o senhor mande em tudo, é provável que tenha me provocado a fazer isto. Se não foi o senhor que me provocou, perdão e compreenda minhas fraquezas.
Até breve, quando, talvez, eu tenha a possibilidade de conhecê-lo pessoalmente e possa compreender o que me foi negado por aqui.
Respeitosamente: pepe granja

Se alguém puder me oferecer informações que satisfaçam meu inconformismo, agradeço imensamente e, acredito, que muitos outros agradecerão, também, por se livrarem de meus questionamentos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A proposta

Rapaiz! A minha dívida deve ser gigantesca, a julgar pelo que estão me fazendo pagar.
Essa minha mania de ficar procurando analogias pra explicar as coisas, me fez procurar alguma que demonstrasse o que vem me acontecendo. Pensei naquele boneco de plástico, inflável, sem pernas, com a barriga chegando até o chão, aumentando de diâmetro desde a cintura. Na parte de baixo ele tinha um peso (acho que era um compartimento cheio de areia), que o mantinha de pé, impedindo-o de tombar. O que mais me lembro era do sorriso idiota, na cara redonda, gozando com a cara dos que lhe davam porradas, tentando derruba-lo, sem conseguir. O chamavam de joão bobo. Ele tomava uma porrada na orelha direita, tombava pro lado esquerdo e voltava pra vertical. Uma bifa na orelha esquerda o tombava pro lado direito e voltava a ficar em pé, quase imediatamente. Enfurecido, o agressor lhe enfiava uma porrada nas fuças, ele tombava pra trás e voltava a ficar em pé, mostrando aquele sorriso imbecil. Pois é, estou como esse boneco, tomando porradas, caindo e voltando a ficar de pé. A diferença é a falta de sorriso, em mim, embora não falte a imbecilidade.
Quando foi diagnosticado que eu estava com ELA (esclerose lateral amiotrófica), que causa degeneração progressiva dos músculos e é fatal; minha filha disse que, como as tentativas pra me derrubar não tinham tido êxito, o, ou quem, tentara me derrubar, decidira me contaminar com essa doença, que não oferece a menoras chance de cura e, de contrapeso, vai paralisando o indivíduo, até que ele só consiga mexer os olhos. Afinal, o joão bobo vai tombar e não se levantar mais.
Eu estava conformado, uma vez que não havia nada a fazer. Por outro lado, já fazia algum tempo que eu considerava que, já que não estava tendo chance de realizações prazerosas, que sobravam motivos pra sofrimento; o melhor seria morrer. O que me enchia o saco, era o preço que estavam cobrando pela minha morte: o definhamento prolongado, a paralisia progressiva, até atingir o objetivo. Achei que era um preço exorbitante, mas como não tinha a quem reclamar, nem como deixar de pagar; resolvi me conformar e não aumentar a apurrinhação com revolta e reclamações.
Motivos pra reclamar não me faltavam. O agressor, não se conformava em só me dar porradas; quando achava que eu poderia cair de vez, me animava com promessas de algo bom. Eram só promessas, pra me reanimar, pra que eu pudesse sentir a próxima porrada com toda a intensidade que ela pretendia impor.
Essa somatória de evidências me mostravam que a intenção era me cobrar algo que estava devendo, embora eu não fizesse a menor idéia do quê.
Eu estava conformado, sentindo a desativação progressiva dos músculos e, conseqüentemente, dos movimentos; quando, na sala de espera, aguardando ser chamado pra mais uma consulta médica; um cara me abordou dizendo que tinha uma proposta pra me fazer e que era do meu maior interesse. Nessa hora me chamaram pra consulta e o cara disse que me esperaria na saída.
Quando saí, o cara veio todo amistoso pro meu lado, me perguntou como havia sido a consulta, como eu estava me sentindo e sugeriu que fossemos até um lanchonete, ali próxima, pra conversarmos mais a vontade.
Como eu não tinha nada a perder e a curiosidade fosse grande, aceitei.
Bem que eu gostaria de comer um churrasco com vinagrete e tomar cerveja, mas como não tinha força pra mastigar e tinha que tomar líquidos em pequenos golinhos, pra que não fossem parar no pulmão; me contentei com uma empadinha de palmito e um cafezinho com leite.
Enquanto eu comia lentamente, o cara foi explicando o que pretendia. Disse que sabia sobre o que estava acontecendo comigo, do que eu teria que passar até o final e do quanto isso deveria ser desagradável. Que tinha informações de que eu preferiria morrer rápido, antes que a degeneração me transformasse num boneco inerte.
Disse que representava um homem muito rico e poderoso que, no entanto, sofria um dilema que o poder e o dinheiro não puderam evitar.
Pediu que eu compreendesse que o que ele pretendia me fazer, era uma proposta e que eu era soberano pra decidir, No entanto, pedia pra que eu analisasse a proposta com serenidade e racionalidade, pois, embora fugisse aos padrões convencionais e pudesse, até, causar repulsa à maioria das pessoas; era suficientemente razoável quando analisada sob a luz da lógica.
Minha ojeriza ao poder, principalmente o oriundo do dinheiro, se encrespou e o impulso de mandar enfiar no rabo qualquer proposta vinda dele, me chegou à ponta da língua. Acho que a tarefa de triturar a empadinha com as poucas forças de que dispunha, me impediu de reagir de imediato e me deu tempo pra decidir ouvir a proposta antes de envia-la para o buraco pretendido.
O cara disse que, considerando minha preferência por morrer antes que a degeneração aumentasse meu desconforto e, de preferência de maneira tranqüila, rápida e sem dor ou qualquer sofrimento; me oferecia essa possibilidade.
“Laranja madura, na beira da estrada, ta madura, Zé, ou tem marimbondo no pé”. O cara não parecia nem um pouco com um bom samaritano, ao contrário, parecia bem esperto e com intenção de conseguir alguma vantagem. Será que queria me vender uma morte confortável, cobrando uma boa grana por isso?
Ficamos um instante nos observando, ele tentando identificar qual seria minha reação e, eu, tentando adivinhar qual o interesse verdadeiro dele. Ao final, perguntei sobre o que teria que dar em troca.
Ele disse saber que eu não era nenhum idiota e que, portanto, não se atreveria a me ofender tentando vender gato por lebre. Que me oferecia a possibilidade de morrer com todo conforto, aparentando morte natural, sem qualquer possibilidade de problema legal, com todo amparo à família. Disse saber que eu era optante pela doação de órgãos, portanto, depois de morto, meu desejo seria cumprido.
Disse que o homem que representava, sofria de uma doença cardíaca e precisava de um transplante de coração com urgência. Que a fila de espera era grande e que era difícil encontrar doadores compatíveis com ele, o que diminuía bastante suas chances de conseguir o transplante que poderia salva-lo. Portanto, meu coração seria o pagamento pelo serviço recebido.
A proposta era razoável e atendia plenamente minha vontade, no entanto, minha ojeriza ao poder de compra me causava repulsa e não pude evitar dizer isso ao cara.
Ele disse compreender, mas argumentou que as coisas eram assim e que, gostássemos ou não, era infrutífera qualquer luta contra o poder e os poderosos. Ele argumentou não considerar aquele um caso de exploração, era uma troca. Eu receberia o que desejava e propiciaria ao outro o que ele necessitava.
Eu argumentei que ele estaria furando uma fila, onde outras pessoas poderiam estar mais necessitadas que ele.
Ele argumentou que eu também estaria furando uma fila, abreviando minha morte que, normalmente, ainda não estava na hora de acontecer.
Ele tinha razão, se eu concordasse, estaria furando a fila, valendo-me do mesmo artifício que o seu patrão.
O cara argumentou que, embora os meios não fossem muito honestos, os fins os justificavam, pois eu me livraria de um sofrimento desnecessário e o homem recuperaria a saúde, sem que alguém sofresse qualquer prejuízo.
Lembrei-o de que havia o problema da compatibilidade. Ele disse que, antes de me procurar, haviam verificado a compatibilidade, sem o que, seria perda de tempo me procurarem; além de terem a informação que, a despeito da minha doença, o coração estava em boas condições.
Perguntei-lhe sobre como haviam conseguido essas informações e ele disse que era confidencial, mas que as fontes eram seguras.
Eu quis saber como conseguiriam a minha morte, sem levantar suspeitas.
Ele disse que tinham uma equipe médica, que estaria de plantão em um hospital, para o qual eu seria levado como vítima de um mal súbito ou coisa parecida. A equipe me atenderia, aplicaria uma droga eficiente e forneceria um atestado de óbito assinado por dois médicos, exigência para possibilitar a cremação.
Argumentei que esse tipo de morte exige autópsia. O que eles fariam para evitar isso?
Ele disse que estava tudo sob controle e que essa formalidade seria dispensada.
Pensei que se houvesse algum problema, eles é que arcariam com as conseqüências, uma vez que eu estaria morto e minha família não tinha como ser acusada de nada. Pensei algum tempo, inclinado a aceitar a proposta de imediato, no entanto, algo me fez pedir um tempo pra pensar. Disse-lhe isso e ele concordou em esperar um dia ou dois dias.
Pedi-lhe um número de telefone ou outro meio que me permitisse procura-lo pra dar a resposta. Ele disse que, para evitar problemas, se encarregaria de me procurar. Despedimo-nos e fomos embora.
Dormir e não acordar mais, que maravilha! Parar de sentir os músculos atrofiando, os movimentos desaparecendo, o aumento da dependência. Deixar de ser alvo de olhares entristecidos, expressando dó, pena e, até, medo. Eram muitas vantagens, aliás, só vantagens. Como recusar uma oferta daquelas?
No entanto, eu me sentia incomodado. Pensar naquilo me causava mal estar. Como não conseguia pensar em outra coisa, o mal estar era constante. Por que? Como algo tão bom poderia causar aquela sensação tão ruim?
A razão me inundava a mente com argumentos apoiando a eutanásia safada; o sentimento acusava insatisfação, sem explicar, sem justificar, só gerando incômodo, mal estar, insatisfação.
O tempo foi passando, enquanto argumentos racionais e sentimentos injustificados se embolavam na mente, gerando pensamentos confusos, contraditórios, numa batalha imbecil, impedindo uma decisão clara e objetiva.
Essa situação não era nova, inúmeras vezes, durante a vida, sofrera com isso. A contradição entre emoção e razão. A razão argumentando, justificando, oferecendo analogias esclarecedoras, enquanto a emoção só provocava sentimentos autoritários, sem qualquer justificativa, gerando vontades que forçavam satisfação a qualquer custo. Aliás, não é que a emoção não argumentava, ela o fazia através de sofismas, argumentos manipulados pra tentar justificar suas pretensões. Era uma argumentação safada, travestida de razão.
Nessa briga de foice entre razão e emoção, a primeira conseguiu destacar seus argumentos, defendendo a recusa da proposta, o que, aliás, atendia a satisfação da emoção.
A previsão do futuro era bastante indesejável. Sentir a incapacidade crescendo, diminuindo a capacidade para as coisas mais elementares, crescendo a dependência dos outros; não era nada agradável. Esperar um fim inevitável, nessas condições, não é nada animador. É um custo muito alto para benefício nenhum.
Não bastasse o custo pessoal exigido, ele se estenderia a outras pessoas, exigindo-lhes sacrifícios, ainda que só ter que presenciar a degradação de um corpo e a feiúra que isso representa. Em mim, isso aumentaria o custo ao ter que perceber ser alvo de pena e dó.
É um custo muito alto!
Porém, quando comparado com o valor das lutas por ideologia, por justiça e pela pregação da solidariedade, em que me empenhei durante todos esses anos; esse custo é muito pequeno.
Aceitar a proposta do cara, seria desvalorizar, anular, todas as lutas em que me empenhei. Mesmo reconhecendo que foram infrutíferas, que resultaram em fracassos; continuo acreditando que o sucesso delas produziria uma convivência menos problemática e mais feliz; portanto foram válidas e não me arrependo de tê-las lutado.
Se não posso fechar minha vida com chave de ouro, não me atrevo a enlamear a história que construí ou, pelo menos, protagonizei.
Pode ser besteira, e acho que é, no entanto, não vou entregar os pontos no último round da luta. O cara que se vire com o seu problema que, do meu, cuido eu e não vai ser o medo de enfrentar um tempo de vida miserável que vai me fazer jogar a toalha.
Nãooooooooooo! Gritei tão alto a resposta à pergunta do cara sobre minha decisão, que acordei.