quinta-feira, 4 de outubro de 2007

LIBERDADE

Liberdade, o que é? Quem é você?
É fácil definir liberdade frente à opressão, à dominação, à exploração, em fim, quando a liberdade do indivíduo é cerceada por outro. No entanto, como considerar o fato do indivíduo ser induzido a pensar e agir contrariando a lógica, com evidente prejuízo a si próprio, sem a interferência de terceiros?
O ódio, por exemplo, escraviza o indivíduo que odeia. Se quem odeia não agir contra o odiado, este não sofrerá nada. Entretanto, o que odeia, será atormentado por esse sentimento, como que lendo em um luminoso de néon o motivo que o despertou, com brilho intenso, cada vez mais chamativo, alargando a ferida, escarvando-a, produzindo o sofrimento mais doído. O desejo de vingança se dirige ao odiado, que pode não ser atingido, no entanto, quem odeia não tem como se livrar do que sente, nem do sofrimento que o atinge.
O que causa o ódio?
O odiado impediu a realização de alguma vontade de quem odeia ou tirou-lhe algo que ele tinha ou acreditava ter.
O odiado pode não ser atingido pelo ódio, no entanto, quem odeia não escapará ao sofrimento. É possível deixar de odiar? É só querer? Não. O máximo que podemos fazer é lutar contra ele, não alimentá-lo, dificultá-lo ao máximo. Como qualquer sentimento, o ódio é causado pela emoção que é causada pela vontade e que reage à racionalidade.
Como considerar livre arbítrio e liberdade quando se está sujeito a imposições como o ódio?
O amor é outra emoção causadora de restrição de liberdade. Quem ama tende a restringir a liberdade da pessoa amada. Claro que é assustador imaginar a possibilidade de perder a quem se ama ou que ela possa sofrer o que quer que seja. O mais importante não é o motivo e, sim, a restrição de liberdade gerada. Restringir a liberdade de quem é amado acaba restringindo a própria liberdade de quem ama. Grande parte de seu tempo é usado para proteger a pessoa amada, outra parte é usada para impedir que ela faça algo que coloque em risco o relacionamento, além da parte que é usada para impedir-se de fazer algo que possa gerar dificuldades para o relacionamento. No final das contas sobra muito pouco de liberdade individual. Esse relacionamento pode ser gerador da maior felicidade, quando a falta de liberdade seria insignificante; no entanto, é patente a restrição de liberdade gerada.
E a ansiedade? Ela força, obriga, impulsiona, exige, tentando restringir totalmente a possibilidade de escolha entre satisfazer ou não a vontade.
Como ser solidário quando dominado pelo egoísmo? Sob o comando do egoísmo, o indivíduo pode, até, optar pela solidariedade, no entanto, terá que fazer um esforço hercúleo para opor-se.
Ódio, amor, ansiedade, egoísmo, prepotência, preguiça, predispõe o indivíduo ao jugo de outros. O explorador vale-se dessas características para submeter os explorados.
E o que dizer da democracia? É conhecida alguma aplicação prática do que a define em teoria? Alguma vez a representação política representou, realmente, a vontade do povo?
Os representantes do povo deveriam ser indicados por ele, no entanto, a máxima liberdade do eleitor só lhe permite escolher entre candidatos que lhe são impostos. Na maioria das vezes, a democracia só serve para legitimar a usurpação do poder por minorias em detrimento da maioria que será oprimida e explorada, assumindo, ainda, a responsabilidade por ter avalizado os que se propuseram a representá-los.
Se houvesse um sistema capaz de ouvir o povo para propostas e decisões, haveria mais harmonia e satisfação na sociedade?
No final das contas, o que sobra de liberdade e livre arbítrio para o indivíduo?
Levantar cedo, escovar os dentes, lavar o rosto, ir pra escola ou trabalho, estudar o que não lhe interessa, trabalhar no que não gosta, conviver com pessoas que lhe causam sentimentos ruins, comer o que pode e não o que gostaria, ser obrigado a ir ao banheiro, ter que ouvir o que não lhe interessa e, até, lhe causa mal estar, participar de eventos e cerimônias de que não gosta, suportar calor quando o detesta, sofrer dores, ter sentimentos e pensamentos que gostaria não ter, não ter a companhia que gostaria, ter a que gostaria não ter, não poder dizer o que gostaria e ter que dizer o que o contraria. Quem pode se livrar de tudo isso?
Por tudo isso, é tão importante utilizarmos da melhor maneira possível a pouca liberdade de que dispomos.

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