quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cadê meus parâmetros?

Ei!
Cadê meus parâmetros?
Eu tinha uma porção deles, alguns estáveis, outros, até, rígidos. Agora, estão aí, emaranhados, confusos, totalmente questionáveis.
Embora relute em admitir, os parâmetros (pelo menos os meus) são influenciados pelos sentimentos e adaptados por eles. No fundo, no fundo; os parâmetros são adaptados aos interesses dos nossos sentimentos, do nosso estado emocional. Isso me parece uma tremenda safadeza, mas não posso negar que isso acontece comigo.
Como ser racional com tamanha influência da emoção? Por que é tão difícil evitar essa promiscuidade entre razão e emoção?
Sempre defendi o direito do indivíduo escolher, optar pelo que lhe pareça melhor, desde que arque com as conseqüências. Por que não consigo aceitar as escolhas alheias que me desagradam? Por que alguém teria que pensar mais em mim que em si próprio, evitando-me dissabores e, conseqüentemente, sofrendo-os? É de uma safadeza imbecil pretender que isso aconteça! É extremamente envergonhado que confesso pretender que isso acontecesse.
É comum tentarmos evitar que pessoas que amamos se arrisquem em tentativas para conseguir o que lhes parece melhor pra elas. Argumentamos que estamos tentando protegê-las, quando, na verdade, estamos tentando proteger a nós mesmos, tentando evitar a nossa perda ou o nosso sofrimento pelo fracasso ou decepção que a pessoa protegida possa sofrer.
Quantos fracassos eu previ e tentei evitar as tentativas? Muitas previsões falharam e, o que me parecia fadado ao fracasso, mostrou resultados satisfatórios. Outras previsões se confirmaram, no entanto, as fracassadas, me mostram, claramente, minha falibilidade e desautorizam que eu force o impedimento de tentativas. Eu deveria me limitar a usar meus conhecimentos e experiência para argumentar e alertar para os riscos, mas respeitando o direito de quem quer tentar. No entanto, é difícil resistir à vontade de tentar evitar, a qualquer custo, que a pessoa tente o que está disposto a arriscar.
Quanta mesquinharia e egoísmo existe por traz das tentativas para evitar que as pessoas se arrisquem em conseguir o que pretendem? Quanto estamos preocupados com elas ou quanto nosso comodismo é que determina nossa preocupação?
É muito fácil recomendar que as pessoas resistam a suas vontades, no entanto, sabemos o quanto é difícil resistir às nossas. Por que não consideramos isso na hora de aconselhar ou recomendar? É muita sacanagem! Não é?
Nada melhor do que exemplos concretos para ilustrar esta reflexão.
Pais procuram impedir que os filhos se divirtam e tenham prazer com brincadeiras que causem barulho ou outro tipo de incômodo para eles, pais. O mesmo acontece se a brincadeira resultar em roupas sujas, que darão mais trabalho para serem lavadas.
É comum que os pais se preocupem quando os filhos se apaixonam e, não raro, procurem todo tipo de obstáculo que possa impedir o relacionamento. Em muitos dos casos, o motivo principal é o medo de perder o amor dos filhos e, não, os prejuízos ou sofrimentos que o relacionamento possa lhes causar. Pais costumam julgar o que é melhor para os filhos, pelos seus valores e, não, pelo dos filhos. Muitas vezes podem ter razão, no entanto, não é razoável desconsiderar os valores dos maiores interessados.
O homem abandonado pela mulher que o amara e que ele ainda ama; tende a acusá-la de incoerência, de falta de juízo, de estar cometendo suicídio moral, de estar abrindo mão de vantagens e se arriscando a grandes prejuízos e sofrimento. Não considera que, o que ela pretende, possa ter um valor muito maior do que o que está deixando para traz. Ele pretende fazer crer que se preocupa com ela, quando na verdade, o motivo principal é o seu próprio sofrimento. Se ele gostaria que ela voltasse, é mais para livrar-se do sofrimento próprio, do que para protegê-la, evitar o sofrimento dela. Isso não quer dizer que ele não se preocupe com ela e tenha interesse em protegê-la, no entanto, a maior motivação é o seu próprio sofrimento. Em conseqüência, ele torce para que ela se dê mal e sofra; o que demonstraria que ele tinha razão e, quem sabe, volte para ele, restituindo-lhe o amor próprio e possibilitando-lhe continuar desfrutando do seu amor. Portanto, é o que ele sente que manipula os parâmetros usados nas análises e conclusões.
A mesquinhez e o egoísmo, tendem a impedir a devida consideração do custo/benefício. Um custo muito pequeno costuma ser motivo suficiente para se desconsiderar o benefício possível, por maior que possa ser.
Quando decidi praticar paraquedismo e vôo livre, parentes e amigos só costumavam considerar os riscos inerentes, desconsiderando o prazer e a felicidade que aquilo propiciava. O mesmo aconteceu quando assumi um relacionamento incomum, com uma menina trinta e dois anos mais nova que eu e bastante bonita. As pessoas se fixavam no que eu sofreria quando ela me deixasse, desconsiderando o prazer e felicidade que ela me propiciava. Tinham razão quanto ao sofrimento, só não consideraram que o benefício pode ter valido o custo resultante. Também evitaram considerar outras qualidades dela, limitando-se a considerar sua beleza e idade.
Fui muito criticado por abrir mão de vantagens financeiras, optando por manter a dignidade.
As pessoas costumam desconsiderar as forças que nos influenciam, dificultando e, até, impedindo que as enfrentemos. Na hora de aconselhar ou criticar, as pessoas desconsideram o poder dessas forças, acreditando que o indivíduo tenha plena capacidade para racionalizar, agir e determinar qual será o resultado.
Se é verdade que somos influenciados por forças misteriosas, como julgar o que o indivíduo pode ou não fazer para resolver uma determinada situação? Será que uma criança tem capacidade suficiente para resistir a suas vontades? Terá o indivíduo capacidade para manter-se completamente racional quando influenciado por forte emoção?
Não escolhemos nascer, nem a família, nem a quem amaremos. Não nos cabe determinar a durabilidade de nossa saúde, que doenças sofreremos e, muito menos, o tempo que viveremos. Isso é inexorável! Quantas outras coisas, que acreditamos estar sob nosso controle, não são influenciadas por esse mesmo mistério? Como podemos condenar alguém, se não temos certeza de que ele seja o único responsável pelo que causou?
A consideração de direitos e deveres pode ajudar bastante nas decisões e evitar muitos problemas. No entanto, por que alguém deve sofrer pra evitar o sofrimento de outro?
É por isso que estou confuso desse jeito! Perdi os parâmetros que me permitiam analisar e julgar. E agora, faço o que?
Não consigo deixar de sentir vontade de criticar, julgar e condenar. No entanto, julgamentos em tais condições, correm risco de serem totalmente injustos. Não quero ser injusto! Não consigo eliminar a vontade de acusar, criticar e condenar! Será que isso tem cura?
Se alguém conhecer algo que possa resolver esse problema, por favor me indique, salvando-me da paranóia que insiste em me dominar. (Será que já não me dominou?).

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