quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

LIBERDADE

Fui com o Michel até a praia de Picinguaba, Ubatuba, onde conhecemos dois suíços, pai e filho, o primeiro com sessenta anos e o outro com vinte e um. Eles estavam há quinze meses viajando em um veleiro. O pai é médico e o filho estudante.
Tive a sensação de que aquela aventura era um exemplo de liberdade. Os dois no veleiro, sem ninguém pra encher o saco, podendo fazer o que quisessem, aportando onde lhes desse na telha, ficando mais ou menos tempo, só dependendo de suas vontades.
Quando relataram as dificuldades com a burocracia da capitania dos portos e da polícia federal, senti que a liberdade não era tão grande. Quando recusaram o convite do Michel para pernoitar em sua casa, alegando que não poderiam deixar o veleiro sozinho; a liberdade que eu imaginara diminuiu mais um pouco. Ela continuou diminuindo quando eles se referiram à calmaria que os imobilizava por longos períodos, uma vez que repudiavam a navegação a motor.
Quando o filho disse que, na travessia do Atlântico, passaram seis semanas sem ver terra, muito menos, qualquer outro tipo de vida; senti que o veleiro funcionava como a mais segura prisão. Não tinham como sair dele, mesmo que quisessem. Eles tiveram a liberdade de se auto-aprisionar!
Pensei nos pensamentos que se instalam em mim e que gostaria de não tê-los. Eles me aprisionam, dificultam que eu pense no que quero, me atormentando, causando sofrimento, sem necessidade de qualquer interferência externa. É um auto-flagelo, involuntário, gerado dentro de mim, contrariando qualquer racionalidade. Esses pensamentos involuntários me aprisionam dentro de mim mesmo.
Se a mulher que amo não me quer; bastaria esquecê-la. Se não obtive o sucesso pretendido, bastaria esquecer o fracasso e partir pra outra. Bastaria empenhar-me no presente objetivando o futuro, desconsiderando o passado. Porém, como conseguir isso?
Se alguém conhecer uma receita que possibilite isso, me avise, por favor. Me ajude a libertar-me de mim mesmo!

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