quarta-feira, 11 de junho de 2008

ELA: conhecimento X especulação

ELA: conhecimento X especulação?
Senhor Deus, desculpe estar incomodando novamente, mas aqui está difícil encontrar respostas, por isso me dirijo ao senhor.
Como o senhor não respondeu as outras cartas que lhe mandei, acho que não vai responder esta também. Não faz mal. Se é pra ser desconsiderado, ter as idéias desprezadas e ser considerado um pentelho que só enche o saco; é melhor que seja por alguém que tenha um conhecimento infinito e um poder inquestionável. Tô de saco cheio de ser desrespeitado por seres humanos que se consideram oniscientes e onipotentes, pretendendo superá-lo, saber mais e poder mais que o senhor.
Como o senhor sabe, estou com ELA (esclerose lateral amiotrófica). Falando nisso, o senhor gostou do nome que deram pra essa doença que o senhor criou? Pomposo né? Então, quando diagnosticaram que eu estava com ela, disseram o nome e me disseram que os neurônios iam morrendo, desativando os nervos que, conseqüentemente, deixavam de estimular os músculos, provocando a atrofia deles. Acreditei que eles conheciam intimamente a doença. Quando disseram que ela não tinha cura, nem mesmo possibilidade de ser detida; aceitei o veredicto como sendo resultado de conhecimento suficientemente questionado e comprovado.
Me submeteram a exames de sangue, tomografias, ressonâncias magnéticas, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionismo e eletroneurografias. Os resultados não apresentavam “defeitos”. A única indicação de que havia uma doença eram os sintomas: a fraqueza e a atrofia muscular.
Foi aí que percebi que a ELA é identificada pela falta de outros motivos que justifiquem a anomalia. Eles não conseguem detectá-la em exames, quer dizer: se não existem outras causas, então, é ELA.
Ora, algo que não pode ser identificado diretamente, não pode ser afirmado com segurança!
Ah Deus! Não sei por que o senhor me equipou com essa mania de questionar, impedindo-me de aceitar o que me informam, pura e simplesmente.
Olha a merda feita! Ao invés de aceitar a explicação dada pelos médicos e pelos sites especializados na internet, tive a atenção despertada pelo fato de que os movimentos eram comandados, que os músculos obedeciam à minha vontade, embora lhes faltasse energia pra realizar o trabalho pretendido. Por exemplo: se eu pretendia levantar um peso de vinte quilos, eles só conseguiam levantar dez, mas, os dez, eles levantavam sem maiores problemas. Então, não havia falta de comando! Pelo menos os nervos encarregados dos comandos estavam funcionando. Portanto, esses nervos estavam ativos e não poderiam ser acusados pela atrofia dos músculos que comandavam.
O que era evidente, era a falta de energia pra realizar o trabalho. Bom, se não eram os nervos motores a causa da atrofia, o que poderia ser?
Pensei que, como todo o organismo, os músculos se servem dos nutrientes retirados dos alimentos, que chegam até eles pela corrente sangüínea. Até aí tudo bem, pois aprendi isso em biologia. O que não me lembro de ter aprendido é como o músculo transforma o nutriente em energia.
O senhor não poderia ter criado um sistema mais simples, que a gente pudesse entender com mais facilidade?
Bom, aí me lembrei que muita gente faz musculação em academias pra ficar musculoso, isto é, aumentar a massa muscular. Portanto, o aumento dessa massa depende de exercícios, isto é, trabalho muscular. Lembrei, também, que quando a gente quebra um braço e ele é engessado, a imobilização causa atrofia dos músculos, quer dizer, diminuição do tamanho, perda de massa. Portanto, a massa muscular depende de nutrientes e de trabalho. Como a energia tem uma relação com a massa muscular, a diminuição desta ocasiona a diminuição daquela.
Tá vendo? Olha o tamanho da complicação!
E o pior, é que isso é o que a gente percebe, no entanto, como é que esse negócio funciona? Como é que o músculo absorve nutrientes, aumenta a massa muscular, gera energia e realiza trabalho?
Quando questionei alguns médicos, mostrando que os comandos nervosos estavam funcionando e, portanto, não poderiam ser a causa da atrofia; eles alegaram que, além do comando, os nervos se distribuem pelo músculo, em grande número de terminais nervosos que o estimulam.
Como eu não tivesse ficado satisfeito com a explicação, fui procurar na internet mais informação e encontrei a seguinte: Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em várias fibras para poder controlar todas as células do músculo, através da placa motora.
Bom, se é o nervo motor que se divide em várias fibras para controlar as células do músculo e, se o nervo motor continua ativo, o problema deveria se localizar na ramificação e não na origem do nervo. Pra que o problema estivesse na origem, os terminais que controlam as células não poderiam ser ramificações do nervo motor e, sim, vindos diretamente do cérebro ou da medula.
Sabe, Deus, o problema é que os que dizem ter o conhecimento, não conseguem explicá-lo. Não sei se é por má vontade ou por incapacidade, ou, por incapacidade minha de entender. Só sei que, até agora, não consegui explicação razoável que me permitisse compreender o processo de energização do músculo.
No mesmo site em que encontrei a explicação acima a respeito da divisão do nervo motor, encontrei a explicação abaixo que se refere à produção da energia pelo músculo.
Como as outras células, as fibras musculares produzem energia por meio de reações de combustão. Devido a intensa atividade para proporcionar movimento e calor ao corpo, as fibras musculares necessitam de grande quantidade de energia (creatina fosfato, carboidratos, gorduras e proteínas).
Achei interessante a informação, nesse mesmo site, a respeito do ácido lático: Em um dos processos do metabolismo energético o organismo produz uma substância denominada ácido lático. Dentro das fibras musculares, o ácido lático impede a renovação da energia necessária para a contração do músculo.
Ora, se o ácido lático pode impedir a renovação da energia, por que ele não poderia ser o responsável pela atrofia?
Tá vendo o que o senhor fez? Me equipou com essa mania de questionar e veja no que deu! Tô questionando um monte de cientistas e profissionais da saúde que tem estudado a ELA por mais de cento e quarenta anos. E agora, como é que eu fico? Eles não conseguem me explicar e eu não me conformo em pensar que eles podem saber e eu não consiga compreender. E ai?
Por mais que me pareça absurdo, não consigo deixar de pensar que, esse pessoal todo, não sabe o que alega saber. É absurdo? Pode ser, mas não consigo deixar de pensar nisso. Será que eles não querem, não podem ou não conseguem explicar?
Tá vendo, Deus, o que o senhor aprontou? Se tivesse feito as coisas mais simples, o processo seria mais fácil de ser entendido e eu não precisaria estar, aqui, duvidando do conhecimento alegado por tão honoráveis pessoas.
Pensei em pedir ao senhor que me proporcionasse o entendimento que procuro, no entanto, se não tem respondido nem as cartas que lhe tenho mandado, não posso acreditar que atenda esse pedido. Chego a achar graça das pessoas que acreditam que o senhor atenda os pedidos delas. Se nem cartas o senhor responde, porque não deve ter tempo pra isso, imagine se vai gastar tempo atendendo pedidos de milagres. Se tudo que acontece é resultado de sua vontade, não vai ser um pedido de um simples mortal que o fará mudar o que o senhor mesmo já havia determinado.
Deus, quer saber? Eu fico cada vez mais embasbacado tentando imaginar o tamanho da sua capacidade. Como é que o senhor conseguiu criar coisas tão complexas que, milhares de anos depois, com todo o conhecimento adquirido pelo ser humano, ele ainda continua ignorante diante de tanto que ainda é absoluto mistério?
Não sei se é maior a vontade de rir ou chorar ao verificar que religiosos, cientistas e, até, gente sem maior qualificação; alegue conhecer a natureza, como foi criada, quem a criou, o que pretendeu e como age. Gostaria de saber o porquê de o senhor tê-los feito assim.
Fico imaginando do porque o senhor ter me feito desse jeito: inconformado e questionador. Por que não me fez como a maioria?
Na situação em que me encontro, eu deveria agir como a maioria: buscando milagres, amaldiçoando a causa da doença, rezando pra merecer um lugar bom no além e coisas assim. No entanto, estou aqui, questionando teorias e paradigmas, tentando conhecer as causas de uma doença, sem a menor esperança de me livrar dela, por pura necessidade de compreender porquês, de espicaçar os prepotentes, de tentar demonstrar a importância da humildade e da solidariedade. O senhor poderia ter me livrado disso e livrado aos outros de terem que me agüentar.
Se tenho consciência do mistério que envolve a natureza e a vida, não deveria ter essa obsessão por compreender. Eu não consigo entender o porquê, mas me dobro ao seu poder e acredito que o senhor terá seus motivos pra que seja assim. Se tem que ser assim, que assim seja.
Encontrei, no site já citado, uma frase que, lida sem espírito crítico, dá a entender um grande conhecimento sobre o sistema muscular. No entanto, ela só descreve, por alto, que os músculos são responsáveis pelos movimentos do corpo e que são comandados pelo cérebro. O que acontece por trás dessa cortina já são outros quinhentos, pouco se conhece e muito se especula.
O sistema muscular é capaz de efetuar imensa variedade de movimento, sendo todas essas contrações musculares controladas e coordenadas pelo cérebro.
Como o senhor sabe, afinal, me fez assim; continuo insatisfeito com as explicações recebidas, e não vou desistir de tentar encontrar alguma razoável.
Que dados eu tenho até aqui?
- Evidências:
- Fraqueza muscular progressiva
- Enfraquecendo o músculo atingido
- Atingindo outros músculos com o passar do tempo
- Atuação do nervo motor, comandando movimentos.

- Suposições:
- Como são atingidos músculos em partes diferentes do corpo, parece que a causa seja algo comum a todos eles:]
- Sistema nervoso
- Sistema circulatório

- Dúvidas sobre as explicações recebidas:
- Os terminais nervosos espalhados pelo músculo são ramificações do nervo motor e comandados por ele; ou, independentes, e comandados por outro sistema (diretamente do cérebro)?
- Mesmo com melhora acentuada de quantidade e qualidade da alimentação, não se percebe alteração positiva na energia muscular.
- Como se processa a absorção de nutrientes pelo músculo, como eles são transformados em massa muscular e como é gerada a energia que possibilita a realização de trabalho?
- Existe a possibilidade de gerar massa muscular e conseqüente energia, artificialmente (química ou fisicamente)?
- A eletroneuragrafia consegue identificar com segurança as regiões onde os nervos estão ativos e onde não?

Deus, desculpe tê-lo incomodado mais uma vez, mas como é possível que o senhor mande em tudo, é provável que tenha me provocado a fazer isto. Se não foi o senhor que me provocou, perdão e compreenda minhas fraquezas.
Até breve, quando, talvez, eu tenha a possibilidade de conhecê-lo pessoalmente e possa compreender o que me foi negado por aqui.
Respeitosamente: pepe granja

Se alguém puder me oferecer informações que satisfaçam meu inconformismo, agradeço imensamente e, acredito, que muitos outros agradecerão, também, por se livrarem de meus questionamentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você pode não concordar comigo, mas lendo esse texto fico ainda com mais dúvidas se ter conhecimento facilita a presença de felicidade. Pelo contrário, gera inquietação, desconforto, angústia... Mas tudo bem, vamos conversar mais sobre isso.
Lilian