terça-feira, 8 de julho de 2008

SABENDO NÃO SABER

SABENDO NÃO SABER
Cada vez mais, me sinto um ator interpretando e dirigindo um personagem que me impingiram, que não pude escolher, nem ao menos estabelecer o roteiro.
Sempre fui um inconformado, questionando, refletindo e agindo na tentativa de mudar coisas e gente. Os fracassos e frustrações não me desanimavam e continuava dando murros em ponta de faca, mudando de estratégia, insistindo, inconformado.
Acreditava que a ignorância era a grande culpada pelas incoerências e desatinos dos indivíduos. Acusava os exploradores como grandes sonegadores de educação e informação, o que lhes facilitava submeter os ignorantes, facilitando sua exploração.
Considerava que as pessoas eram vítimas de um sistema e que, se tivessem uma oportunidade de acessar conhecimento, poderiam mudar e, ao invés de causar tantos problemas, ajudar a soluciona-los.
Embora os considerasse vítimas, deplorava os vagabundos, alcoólatras, dependentes de drogas, marginais, mentirosos crônicos, fofoqueiros, relapsos, em fim, todos os que, ao invés de contribuir para a harmonia, provocavam problemas, visando benefícios pessoais sem se importar com os prejuízos causados.
Considerava e, isso, continuo considerando, que o egoísmo e a prepotência eram os grandes males da sociedade, verdadeiros cânceres. O egoísmo faz com que o indivíduo só se preocupe consigo mesmo, pretenda tudo pra si, sem a menor preocupação com os outros. Ele não dá a menor importância ao fato de que, um pequeno benefício seu, possa causar grande prejuízo a outros. Ele só se importa com seus benefícios, não dando a menor importância a direitos alheios ou a prejuízos que possa causar.
A prepotência impede o indivíduo de reconhecer o que não sabe, acreditando saber o necessário. Acreditando saber, não considera necessário aprender, o que o condena à ignorância. Acreditando saber o que não sabe, julga por parâmetros errados ou distorcidos, gerando prejuízos e sofrimento, acreditando estar fazendo o melhor. A prepotência provoca que, alguém bem intencionado, cometa verdadeiros absurdos por pura ignorância; acreditando estar fazendo o bem quando está causando terríveis males.
Gastei quase meio século captando dados, analisando, refletindo, criticando, discutindo, mudando, concluindo, reconsiderando conclusões. Foram tantas experiências, observações e reflexões; tantas constatações de falsidade; de erros considerados, por muito tempo, como acertos; de verdades mentirosas; que perdi a segurança pra julgar. Para julgar, é necessário ter parâmetros e os meus se embaralharam, contradizendo-se. Em fim, o certo poderia estar errado; o errado, estar certo; dependendo do enfoque, dos parâmetros usados, Como julgar se algo, tanto poderia estar certo como errado?
Considerando o preceito jurídico em que a dúvida deve favorecer o réu; não posso mais condenar ninguém, nem nada!
Veja-se o caso da doença que me acometeu. Eu não a pedi, nem a escolhi. Devo condenar, maldizer, o que ou quem a provocou? Se não sei o que ou quem a causou, menos ainda sei sobre seus motivos. Sem conhecer o culpado, nem os motivos; que julgamento posso fazer?
Pelos meus parâmetros, acho injusto o ter sido desativado, inutilizado, mesmo antes da doença. Considero que tinha muito para oferecer, capacidade pra fazer várias coisas; no entanto, não faço a menor idéia sobre os porquês de me terem desativado. Os motivos pra isso podem ser muito mais significativos do que o que eu poderia realizar. Como julgar conhecendo só um lado da história?
A lógica me revela que, se a intenção fosse só me desativar, bastaria me matar. Me desativar primeiro, provocar a doença depois e me fazer passar pelo que ela provoca; deve ter algum motivo. O fato de não conhecê-lo não implica em que não exista.
“Bater com um mão e acariciar com a outra” é o que o responsável por isso, fez. Me desativou, provocou a doença degenerativa pra, só depois, permitir a morte. Por outro lado, me livrou de dores, que costumam acometer os pacientes de doenças fatais. Mais ainda, me livrou do inconformismo que sempre me acompanhou e me possibilitou serenidade e tranqüilidade, para aceitar o que tem me afetado. Chego a imaginar que essa serenidade aumente à medida que o fim vá se aproximando, que eu seja dominado por grande moleza e com muito sono, até que não desperte mais.
É pedir demais? Talvez. Mas essa mão que acaricia bem pode propiciar isso.
Que motivos estariam por trás desse processo?
É possível especular inúmeras possibilidades, no entanto, parece impossível ter alguma segurança pra identificar a real.
Nós só conhecemos a parte sensível e racional da vida e, não conseguindo admitir que possamos ser influenciados por algo sobre o que não temos a menor idéia; nos leva a considerar que tudo depende do que conhecemos e nos esforçamos para justificar tudo só com essa parte conhecida, desconsiderando o mistério. Desde o mais ignorante, até o acadêmico mais ilustrado, conhecem evidências do desconhecido. É bastante popular o conhecimento de que a união de um óvulo com um espermatozóide produzem um ser vivo. No entanto, conhecer o que determinou que isso fosse assim, não há cientista que possa explicar.
Portanto, é irracional imaginarmos que sabemos tudo, mesmo reunindo todo o conhecimento humano. Acreditar nisso é confessar demência, no mais alto grau possível.
A experiência me fez compreender que é preciso aprender muito para compreender que não sabemos. Por mais que nos custe, é possível quantificar o que sabemos. Alguém se atreve a quantificar o que não sabemos?
Se desconhecemos tanto, o que nos credencia a julgar com segurança, considerando que, dados importantes, podem estar escondidos?
A vida nos obriga a julgar, constantemente, e não é razoável eximirmo-nos disso. Mas, daí, a acreditar-se o dono da verdade, infalível; é exagerar pra lá da conta!
O julgamento humano é sempre temporal e temporário, sem verdades absolutas. Muito do que foi verdade ontem, é falso hoje; portanto, a probabilidade do que é certo hoje, ser errado amanhã, é enorme.
Essa consciência não deve nos impedir de julgar, mas considerar que o julgamento não é absoluto, muito menos, definitivo.
É.... É preciso aprender muito pra descobrir quão pouco sabemos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Você já parou para pensar que essa situação pode ter sido criadas por forças alheias à vontade de Deus? E que precisa estar em contato com Ele para pedir ajuda??? Pedir ajuda não significa pedir para te livrar da doença, mas a ter cada vez mais força e coragem para enfrentá-la.
Você passou tanto tempo renegando a existência e o poder de Deus, que pode ter aberto portas para outras criaturas agirem sobre você.
É claro que eu não sei se isso é uma verdade, mas é o que acredito, é a minha fé, que não é racional. O que importa é que ela me faz bem, me conforta, e a cada acontecimento em minha vida tenho mais certeza da presença de Deus, como por exemplo a força que tenho tdo para suportar essa situação. Sempre acreditei que seria diferente, que pudesse morrer ou enlouquecer. Mas Ele está me confortando e me dando força, tenho certeza!
Beijos
Lilian