sábado, 1 de março de 2008

O que é vida e onde começa?

Hoje pela manhã, assisti ao final de um debate, na Globonews, sobre células tronco. Participavam cientistas e religiosos.
Entendi que a questão fundamental é a definição do momento em que a vida tem início.
O que fica evidente é a consideração da superioridade da vida humana, em relação a todos os outros tipos de vida.
Parece que essa supervalorização se deve à crença de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Quer dizer: ele não é Deus, mas muito parecido, enquanto as outras espécies não mereceram essa distinção.
O homem pode matar outros seres vivos para se alimentar e, até, para oferecer essas vidas em rituais religiosos. Entretanto, a vida humana é sagrada e, em hipótese alguma, pode ser tocada.
Não existem provas sobre as afirmações religiosas, nem mesmo lógica nas argumentações que as defendem. Portanto, a fé é uma emoção, um sentimento que prevalece sobre a lógica.
A humanidade considera que o maior absurdo da ideologia do nazismo, era considerar a raça ariana como pura, merecedora de todas os direitos e benécies, enquanto, as outras, eram inferiores e deveriam ser dizimadas para não comprometer a raça superior.
Os religiosos defendem a mesma ideologia, só trocando a raça ariana pela humanidade como um todo. Hitler defendia que a raça ariana era superior a qualquer outra raça humana. Os religiosos defendem que o ser humano tem essa mesma superioridade em relação a todos os outros tipos de vida. Me parece tão absurda a primeira quanto a segunda tese.
Só considerando os seres vivos, é tão evidente a complexidade, que parecem absolutamente simplórias as teses da humanidade que pretendem compreendê-la. Saltam aos olhos as intenções corporativistas que estão na base dessas teorias, pretendendo monopolizar o direito do homem sobre todos os outros seres vivos.
Os animais selvagens continuam, hoje, praticamente iguais, vivendo e se comportando da mesma maneira que o faziam na época do império romano. Não criaram nada de novo.
O ser humano, durante esse tempo, descobriu e inventou uma enormidade de coisas objetivando melhorar sua qualidade de vida, diminuindo a necessidade de esforço físico, curando doenças, propiciando facilidades, conforto e lazer. A mesma capacidade que propiciou isso, gerou destruição, dor e sofrimento. Muitas dessas coisas geraram tanto o bem como o mal, dependendo do uso que lhes foi dado.
Os animais selvagens não criaram nada de bom, no entanto, também não causaram males novos. No entanto, não puderam deixar de sofrer as conseqüências da atividade humana. É isso que justifica a superioridade do ser humano sobre todos os outros seres vivos?
Voltando ao motivo do início desta reflexão, a pesquisa com células tronco, embrionárias ou adultas; a polêmica tem mostrado a fragilidade da razão em confronto com a emoção e da lógica frente à crença.
O homem considera natural que animais se alimentem de ovos de outros animais e, até, os da própria raça. Da mesma maneira que aceita que filhotes sejam devorados. No entanto, considera inadmissível a interrupção da evolução de um embrião humano que nem o estágio de ovo aviário atingiu.
A maior incoerência está no fato de se combater o uso de embriões criados em laboratório e que não têm como evoluir e acabarão sendo descartados, quer dizer, mortos. Eles foram gerados artificialmente, embora com matéria prima natural, em número maior que o necessário, objetivando diminuir a chance de fracasso. Se for criado só um embrião e ele apresentar problemas, o processo terá que ser reiniciado. Criando vários, é possível descartar os defeituosos e, ainda, sobrarão embriões perfeitos para o sucesso do processo. Mas, claro, como só será usado um, os outros não terão como se desenvolver.
Não seria mais lógico impedir a criação desses embriões? Eles não existindo, não haveria a possibilidade de qualquer ação sobre eles, portanto esse problema não existiria, muito menos, motivos para essa polêmica.
Mais incoerente, ainda, é admitir a não evolução desses embriões, impedidos de chegar à vida completa e, pior, admitindo que sejam descartados, quer dizer, que morram. Admitem uma morte inútil, enquanto repudiam a possibilidade de que essa morte possa representar a salvação de outras vidas, em pleno andamento e, muitas vezes, de indivíduos que já provaram ter muito a oferecer.
Usando uma argumentação agressiva: essas pessoas preferem defender a vida de um embrião, que poderá resultar num criminoso, enquanto impedem que alguém bom e com capacidade demonstrada, perca a chance de continuar vivendo.
Pelo que defendem as religiões, a fertilidade não seria um desígnio de Deus?
Se a vontade Dele é a não procriação daquele casal, não é uma afronta provocá-la artificialmente?

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