É muito grande o número de pessoas que deixam de viver por medo de morrer. A pesquisa científica tem grande responsabilidade sobre isso. Os profissionais de saúde costumam usar essas pesquisas pra aterrorizar seus pacientes, receitando restrições, abstinências e proibições; valorizando muito mais os riscos do que os prazeres que algo possa causar.
Desconhecendo as verdadeiras causas que provocam as doenças, os profissionais de saúde e os cientistas, acusam motivos que podem contribuir pra elas, mas que não são o principal. Fumo, álcool, drogas, gorduras, pimentas; por exemplo, tem sido bodes espiatórios de muitas doenças. Aponta-se os doentes que consumiam esses produtos como evidência dos males que causam. Não consideram os consumidores que, mesmo consumindo as mesmas coisas, não adoeceram. Nas estatísticas, o número dos atingidos é sempre muito menor que os não, mesmo assim, a minoria tem força muito maior que a maioria. Incrível! Não?
A humanidade, principalmente os cientistas, precisam compreender que o mistério é muito maior que o conhecimento.
Tenho a impressão de que quem conhece tudo, brinca de enganar o ser humano, permitindo-lhe descobrir algumas coisas, para entretê-lo, aliviando-lhe a curiosidade. No entanto, sonega o principal que, por algum motivo, não tem a intenção de revelar. Se ele pode criar tudo e quisesse que não houvesse mistério, teria equipado o homem com esse conhecimento. Se ele não quer revelar, terá o homem capacidade pra contrariá-lo e descobrir o que ele não quer revelar?
quarta-feira, 25 de junho de 2008
quarta-feira, 11 de junho de 2008
ELA: conhecimento X especulação
ELA: conhecimento X especulação?
Senhor Deus, desculpe estar incomodando novamente, mas aqui está difícil encontrar respostas, por isso me dirijo ao senhor.
Como o senhor não respondeu as outras cartas que lhe mandei, acho que não vai responder esta também. Não faz mal. Se é pra ser desconsiderado, ter as idéias desprezadas e ser considerado um pentelho que só enche o saco; é melhor que seja por alguém que tenha um conhecimento infinito e um poder inquestionável. Tô de saco cheio de ser desrespeitado por seres humanos que se consideram oniscientes e onipotentes, pretendendo superá-lo, saber mais e poder mais que o senhor.
Como o senhor sabe, estou com ELA (esclerose lateral amiotrófica). Falando nisso, o senhor gostou do nome que deram pra essa doença que o senhor criou? Pomposo né? Então, quando diagnosticaram que eu estava com ela, disseram o nome e me disseram que os neurônios iam morrendo, desativando os nervos que, conseqüentemente, deixavam de estimular os músculos, provocando a atrofia deles. Acreditei que eles conheciam intimamente a doença. Quando disseram que ela não tinha cura, nem mesmo possibilidade de ser detida; aceitei o veredicto como sendo resultado de conhecimento suficientemente questionado e comprovado.
Me submeteram a exames de sangue, tomografias, ressonâncias magnéticas, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionismo e eletroneurografias. Os resultados não apresentavam “defeitos”. A única indicação de que havia uma doença eram os sintomas: a fraqueza e a atrofia muscular.
Foi aí que percebi que a ELA é identificada pela falta de outros motivos que justifiquem a anomalia. Eles não conseguem detectá-la em exames, quer dizer: se não existem outras causas, então, é ELA.
Ora, algo que não pode ser identificado diretamente, não pode ser afirmado com segurança!
Ah Deus! Não sei por que o senhor me equipou com essa mania de questionar, impedindo-me de aceitar o que me informam, pura e simplesmente.
Olha a merda feita! Ao invés de aceitar a explicação dada pelos médicos e pelos sites especializados na internet, tive a atenção despertada pelo fato de que os movimentos eram comandados, que os músculos obedeciam à minha vontade, embora lhes faltasse energia pra realizar o trabalho pretendido. Por exemplo: se eu pretendia levantar um peso de vinte quilos, eles só conseguiam levantar dez, mas, os dez, eles levantavam sem maiores problemas. Então, não havia falta de comando! Pelo menos os nervos encarregados dos comandos estavam funcionando. Portanto, esses nervos estavam ativos e não poderiam ser acusados pela atrofia dos músculos que comandavam.
O que era evidente, era a falta de energia pra realizar o trabalho. Bom, se não eram os nervos motores a causa da atrofia, o que poderia ser?
Pensei que, como todo o organismo, os músculos se servem dos nutrientes retirados dos alimentos, que chegam até eles pela corrente sangüínea. Até aí tudo bem, pois aprendi isso em biologia. O que não me lembro de ter aprendido é como o músculo transforma o nutriente em energia.
O senhor não poderia ter criado um sistema mais simples, que a gente pudesse entender com mais facilidade?
Bom, aí me lembrei que muita gente faz musculação em academias pra ficar musculoso, isto é, aumentar a massa muscular. Portanto, o aumento dessa massa depende de exercícios, isto é, trabalho muscular. Lembrei, também, que quando a gente quebra um braço e ele é engessado, a imobilização causa atrofia dos músculos, quer dizer, diminuição do tamanho, perda de massa. Portanto, a massa muscular depende de nutrientes e de trabalho. Como a energia tem uma relação com a massa muscular, a diminuição desta ocasiona a diminuição daquela.
Tá vendo? Olha o tamanho da complicação!
E o pior, é que isso é o que a gente percebe, no entanto, como é que esse negócio funciona? Como é que o músculo absorve nutrientes, aumenta a massa muscular, gera energia e realiza trabalho?
Quando questionei alguns médicos, mostrando que os comandos nervosos estavam funcionando e, portanto, não poderiam ser a causa da atrofia; eles alegaram que, além do comando, os nervos se distribuem pelo músculo, em grande número de terminais nervosos que o estimulam.
Como eu não tivesse ficado satisfeito com a explicação, fui procurar na internet mais informação e encontrei a seguinte: Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em várias fibras para poder controlar todas as células do músculo, através da placa motora.
Bom, se é o nervo motor que se divide em várias fibras para controlar as células do músculo e, se o nervo motor continua ativo, o problema deveria se localizar na ramificação e não na origem do nervo. Pra que o problema estivesse na origem, os terminais que controlam as células não poderiam ser ramificações do nervo motor e, sim, vindos diretamente do cérebro ou da medula.
Sabe, Deus, o problema é que os que dizem ter o conhecimento, não conseguem explicá-lo. Não sei se é por má vontade ou por incapacidade, ou, por incapacidade minha de entender. Só sei que, até agora, não consegui explicação razoável que me permitisse compreender o processo de energização do músculo.
No mesmo site em que encontrei a explicação acima a respeito da divisão do nervo motor, encontrei a explicação abaixo que se refere à produção da energia pelo músculo.
Como as outras células, as fibras musculares produzem energia por meio de reações de combustão. Devido a intensa atividade para proporcionar movimento e calor ao corpo, as fibras musculares necessitam de grande quantidade de energia (creatina fosfato, carboidratos, gorduras e proteínas).
Achei interessante a informação, nesse mesmo site, a respeito do ácido lático: Em um dos processos do metabolismo energético o organismo produz uma substância denominada ácido lático. Dentro das fibras musculares, o ácido lático impede a renovação da energia necessária para a contração do músculo.
Ora, se o ácido lático pode impedir a renovação da energia, por que ele não poderia ser o responsável pela atrofia?
Tá vendo o que o senhor fez? Me equipou com essa mania de questionar e veja no que deu! Tô questionando um monte de cientistas e profissionais da saúde que tem estudado a ELA por mais de cento e quarenta anos. E agora, como é que eu fico? Eles não conseguem me explicar e eu não me conformo em pensar que eles podem saber e eu não consiga compreender. E ai?
Por mais que me pareça absurdo, não consigo deixar de pensar que, esse pessoal todo, não sabe o que alega saber. É absurdo? Pode ser, mas não consigo deixar de pensar nisso. Será que eles não querem, não podem ou não conseguem explicar?
Tá vendo, Deus, o que o senhor aprontou? Se tivesse feito as coisas mais simples, o processo seria mais fácil de ser entendido e eu não precisaria estar, aqui, duvidando do conhecimento alegado por tão honoráveis pessoas.
Pensei em pedir ao senhor que me proporcionasse o entendimento que procuro, no entanto, se não tem respondido nem as cartas que lhe tenho mandado, não posso acreditar que atenda esse pedido. Chego a achar graça das pessoas que acreditam que o senhor atenda os pedidos delas. Se nem cartas o senhor responde, porque não deve ter tempo pra isso, imagine se vai gastar tempo atendendo pedidos de milagres. Se tudo que acontece é resultado de sua vontade, não vai ser um pedido de um simples mortal que o fará mudar o que o senhor mesmo já havia determinado.
Deus, quer saber? Eu fico cada vez mais embasbacado tentando imaginar o tamanho da sua capacidade. Como é que o senhor conseguiu criar coisas tão complexas que, milhares de anos depois, com todo o conhecimento adquirido pelo ser humano, ele ainda continua ignorante diante de tanto que ainda é absoluto mistério?
Não sei se é maior a vontade de rir ou chorar ao verificar que religiosos, cientistas e, até, gente sem maior qualificação; alegue conhecer a natureza, como foi criada, quem a criou, o que pretendeu e como age. Gostaria de saber o porquê de o senhor tê-los feito assim.
Fico imaginando do porque o senhor ter me feito desse jeito: inconformado e questionador. Por que não me fez como a maioria?
Na situação em que me encontro, eu deveria agir como a maioria: buscando milagres, amaldiçoando a causa da doença, rezando pra merecer um lugar bom no além e coisas assim. No entanto, estou aqui, questionando teorias e paradigmas, tentando conhecer as causas de uma doença, sem a menor esperança de me livrar dela, por pura necessidade de compreender porquês, de espicaçar os prepotentes, de tentar demonstrar a importância da humildade e da solidariedade. O senhor poderia ter me livrado disso e livrado aos outros de terem que me agüentar.
Se tenho consciência do mistério que envolve a natureza e a vida, não deveria ter essa obsessão por compreender. Eu não consigo entender o porquê, mas me dobro ao seu poder e acredito que o senhor terá seus motivos pra que seja assim. Se tem que ser assim, que assim seja.
Encontrei, no site já citado, uma frase que, lida sem espírito crítico, dá a entender um grande conhecimento sobre o sistema muscular. No entanto, ela só descreve, por alto, que os músculos são responsáveis pelos movimentos do corpo e que são comandados pelo cérebro. O que acontece por trás dessa cortina já são outros quinhentos, pouco se conhece e muito se especula.
O sistema muscular é capaz de efetuar imensa variedade de movimento, sendo todas essas contrações musculares controladas e coordenadas pelo cérebro.
Como o senhor sabe, afinal, me fez assim; continuo insatisfeito com as explicações recebidas, e não vou desistir de tentar encontrar alguma razoável.
Que dados eu tenho até aqui?
- Evidências:
- Fraqueza muscular progressiva
- Enfraquecendo o músculo atingido
- Atingindo outros músculos com o passar do tempo
- Atuação do nervo motor, comandando movimentos.
- Suposições:
- Como são atingidos músculos em partes diferentes do corpo, parece que a causa seja algo comum a todos eles:]
- Sistema nervoso
- Sistema circulatório
- Dúvidas sobre as explicações recebidas:
- Os terminais nervosos espalhados pelo músculo são ramificações do nervo motor e comandados por ele; ou, independentes, e comandados por outro sistema (diretamente do cérebro)?
- Mesmo com melhora acentuada de quantidade e qualidade da alimentação, não se percebe alteração positiva na energia muscular.
- Como se processa a absorção de nutrientes pelo músculo, como eles são transformados em massa muscular e como é gerada a energia que possibilita a realização de trabalho?
- Existe a possibilidade de gerar massa muscular e conseqüente energia, artificialmente (química ou fisicamente)?
- A eletroneuragrafia consegue identificar com segurança as regiões onde os nervos estão ativos e onde não?
Deus, desculpe tê-lo incomodado mais uma vez, mas como é possível que o senhor mande em tudo, é provável que tenha me provocado a fazer isto. Se não foi o senhor que me provocou, perdão e compreenda minhas fraquezas.
Até breve, quando, talvez, eu tenha a possibilidade de conhecê-lo pessoalmente e possa compreender o que me foi negado por aqui.
Respeitosamente: pepe granja
Se alguém puder me oferecer informações que satisfaçam meu inconformismo, agradeço imensamente e, acredito, que muitos outros agradecerão, também, por se livrarem de meus questionamentos.
Senhor Deus, desculpe estar incomodando novamente, mas aqui está difícil encontrar respostas, por isso me dirijo ao senhor.
Como o senhor não respondeu as outras cartas que lhe mandei, acho que não vai responder esta também. Não faz mal. Se é pra ser desconsiderado, ter as idéias desprezadas e ser considerado um pentelho que só enche o saco; é melhor que seja por alguém que tenha um conhecimento infinito e um poder inquestionável. Tô de saco cheio de ser desrespeitado por seres humanos que se consideram oniscientes e onipotentes, pretendendo superá-lo, saber mais e poder mais que o senhor.
Como o senhor sabe, estou com ELA (esclerose lateral amiotrófica). Falando nisso, o senhor gostou do nome que deram pra essa doença que o senhor criou? Pomposo né? Então, quando diagnosticaram que eu estava com ela, disseram o nome e me disseram que os neurônios iam morrendo, desativando os nervos que, conseqüentemente, deixavam de estimular os músculos, provocando a atrofia deles. Acreditei que eles conheciam intimamente a doença. Quando disseram que ela não tinha cura, nem mesmo possibilidade de ser detida; aceitei o veredicto como sendo resultado de conhecimento suficientemente questionado e comprovado.
Me submeteram a exames de sangue, tomografias, ressonâncias magnéticas, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionismo e eletroneurografias. Os resultados não apresentavam “defeitos”. A única indicação de que havia uma doença eram os sintomas: a fraqueza e a atrofia muscular.
Foi aí que percebi que a ELA é identificada pela falta de outros motivos que justifiquem a anomalia. Eles não conseguem detectá-la em exames, quer dizer: se não existem outras causas, então, é ELA.
Ora, algo que não pode ser identificado diretamente, não pode ser afirmado com segurança!
Ah Deus! Não sei por que o senhor me equipou com essa mania de questionar, impedindo-me de aceitar o que me informam, pura e simplesmente.
Olha a merda feita! Ao invés de aceitar a explicação dada pelos médicos e pelos sites especializados na internet, tive a atenção despertada pelo fato de que os movimentos eram comandados, que os músculos obedeciam à minha vontade, embora lhes faltasse energia pra realizar o trabalho pretendido. Por exemplo: se eu pretendia levantar um peso de vinte quilos, eles só conseguiam levantar dez, mas, os dez, eles levantavam sem maiores problemas. Então, não havia falta de comando! Pelo menos os nervos encarregados dos comandos estavam funcionando. Portanto, esses nervos estavam ativos e não poderiam ser acusados pela atrofia dos músculos que comandavam.
O que era evidente, era a falta de energia pra realizar o trabalho. Bom, se não eram os nervos motores a causa da atrofia, o que poderia ser?
Pensei que, como todo o organismo, os músculos se servem dos nutrientes retirados dos alimentos, que chegam até eles pela corrente sangüínea. Até aí tudo bem, pois aprendi isso em biologia. O que não me lembro de ter aprendido é como o músculo transforma o nutriente em energia.
O senhor não poderia ter criado um sistema mais simples, que a gente pudesse entender com mais facilidade?
Bom, aí me lembrei que muita gente faz musculação em academias pra ficar musculoso, isto é, aumentar a massa muscular. Portanto, o aumento dessa massa depende de exercícios, isto é, trabalho muscular. Lembrei, também, que quando a gente quebra um braço e ele é engessado, a imobilização causa atrofia dos músculos, quer dizer, diminuição do tamanho, perda de massa. Portanto, a massa muscular depende de nutrientes e de trabalho. Como a energia tem uma relação com a massa muscular, a diminuição desta ocasiona a diminuição daquela.
Tá vendo? Olha o tamanho da complicação!
E o pior, é que isso é o que a gente percebe, no entanto, como é que esse negócio funciona? Como é que o músculo absorve nutrientes, aumenta a massa muscular, gera energia e realiza trabalho?
Quando questionei alguns médicos, mostrando que os comandos nervosos estavam funcionando e, portanto, não poderiam ser a causa da atrofia; eles alegaram que, além do comando, os nervos se distribuem pelo músculo, em grande número de terminais nervosos que o estimulam.
Como eu não tivesse ficado satisfeito com a explicação, fui procurar na internet mais informação e encontrei a seguinte: Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em várias fibras para poder controlar todas as células do músculo, através da placa motora.
Bom, se é o nervo motor que se divide em várias fibras para controlar as células do músculo e, se o nervo motor continua ativo, o problema deveria se localizar na ramificação e não na origem do nervo. Pra que o problema estivesse na origem, os terminais que controlam as células não poderiam ser ramificações do nervo motor e, sim, vindos diretamente do cérebro ou da medula.
Sabe, Deus, o problema é que os que dizem ter o conhecimento, não conseguem explicá-lo. Não sei se é por má vontade ou por incapacidade, ou, por incapacidade minha de entender. Só sei que, até agora, não consegui explicação razoável que me permitisse compreender o processo de energização do músculo.
No mesmo site em que encontrei a explicação acima a respeito da divisão do nervo motor, encontrei a explicação abaixo que se refere à produção da energia pelo músculo.
Como as outras células, as fibras musculares produzem energia por meio de reações de combustão. Devido a intensa atividade para proporcionar movimento e calor ao corpo, as fibras musculares necessitam de grande quantidade de energia (creatina fosfato, carboidratos, gorduras e proteínas).
Achei interessante a informação, nesse mesmo site, a respeito do ácido lático: Em um dos processos do metabolismo energético o organismo produz uma substância denominada ácido lático. Dentro das fibras musculares, o ácido lático impede a renovação da energia necessária para a contração do músculo.
Ora, se o ácido lático pode impedir a renovação da energia, por que ele não poderia ser o responsável pela atrofia?
Tá vendo o que o senhor fez? Me equipou com essa mania de questionar e veja no que deu! Tô questionando um monte de cientistas e profissionais da saúde que tem estudado a ELA por mais de cento e quarenta anos. E agora, como é que eu fico? Eles não conseguem me explicar e eu não me conformo em pensar que eles podem saber e eu não consiga compreender. E ai?
Por mais que me pareça absurdo, não consigo deixar de pensar que, esse pessoal todo, não sabe o que alega saber. É absurdo? Pode ser, mas não consigo deixar de pensar nisso. Será que eles não querem, não podem ou não conseguem explicar?
Tá vendo, Deus, o que o senhor aprontou? Se tivesse feito as coisas mais simples, o processo seria mais fácil de ser entendido e eu não precisaria estar, aqui, duvidando do conhecimento alegado por tão honoráveis pessoas.
Pensei em pedir ao senhor que me proporcionasse o entendimento que procuro, no entanto, se não tem respondido nem as cartas que lhe tenho mandado, não posso acreditar que atenda esse pedido. Chego a achar graça das pessoas que acreditam que o senhor atenda os pedidos delas. Se nem cartas o senhor responde, porque não deve ter tempo pra isso, imagine se vai gastar tempo atendendo pedidos de milagres. Se tudo que acontece é resultado de sua vontade, não vai ser um pedido de um simples mortal que o fará mudar o que o senhor mesmo já havia determinado.
Deus, quer saber? Eu fico cada vez mais embasbacado tentando imaginar o tamanho da sua capacidade. Como é que o senhor conseguiu criar coisas tão complexas que, milhares de anos depois, com todo o conhecimento adquirido pelo ser humano, ele ainda continua ignorante diante de tanto que ainda é absoluto mistério?
Não sei se é maior a vontade de rir ou chorar ao verificar que religiosos, cientistas e, até, gente sem maior qualificação; alegue conhecer a natureza, como foi criada, quem a criou, o que pretendeu e como age. Gostaria de saber o porquê de o senhor tê-los feito assim.
Fico imaginando do porque o senhor ter me feito desse jeito: inconformado e questionador. Por que não me fez como a maioria?
Na situação em que me encontro, eu deveria agir como a maioria: buscando milagres, amaldiçoando a causa da doença, rezando pra merecer um lugar bom no além e coisas assim. No entanto, estou aqui, questionando teorias e paradigmas, tentando conhecer as causas de uma doença, sem a menor esperança de me livrar dela, por pura necessidade de compreender porquês, de espicaçar os prepotentes, de tentar demonstrar a importância da humildade e da solidariedade. O senhor poderia ter me livrado disso e livrado aos outros de terem que me agüentar.
Se tenho consciência do mistério que envolve a natureza e a vida, não deveria ter essa obsessão por compreender. Eu não consigo entender o porquê, mas me dobro ao seu poder e acredito que o senhor terá seus motivos pra que seja assim. Se tem que ser assim, que assim seja.
Encontrei, no site já citado, uma frase que, lida sem espírito crítico, dá a entender um grande conhecimento sobre o sistema muscular. No entanto, ela só descreve, por alto, que os músculos são responsáveis pelos movimentos do corpo e que são comandados pelo cérebro. O que acontece por trás dessa cortina já são outros quinhentos, pouco se conhece e muito se especula.
O sistema muscular é capaz de efetuar imensa variedade de movimento, sendo todas essas contrações musculares controladas e coordenadas pelo cérebro.
Como o senhor sabe, afinal, me fez assim; continuo insatisfeito com as explicações recebidas, e não vou desistir de tentar encontrar alguma razoável.
Que dados eu tenho até aqui?
- Evidências:
- Fraqueza muscular progressiva
- Enfraquecendo o músculo atingido
- Atingindo outros músculos com o passar do tempo
- Atuação do nervo motor, comandando movimentos.
- Suposições:
- Como são atingidos músculos em partes diferentes do corpo, parece que a causa seja algo comum a todos eles:]
- Sistema nervoso
- Sistema circulatório
- Dúvidas sobre as explicações recebidas:
- Os terminais nervosos espalhados pelo músculo são ramificações do nervo motor e comandados por ele; ou, independentes, e comandados por outro sistema (diretamente do cérebro)?
- Mesmo com melhora acentuada de quantidade e qualidade da alimentação, não se percebe alteração positiva na energia muscular.
- Como se processa a absorção de nutrientes pelo músculo, como eles são transformados em massa muscular e como é gerada a energia que possibilita a realização de trabalho?
- Existe a possibilidade de gerar massa muscular e conseqüente energia, artificialmente (química ou fisicamente)?
- A eletroneuragrafia consegue identificar com segurança as regiões onde os nervos estão ativos e onde não?
Deus, desculpe tê-lo incomodado mais uma vez, mas como é possível que o senhor mande em tudo, é provável que tenha me provocado a fazer isto. Se não foi o senhor que me provocou, perdão e compreenda minhas fraquezas.
Até breve, quando, talvez, eu tenha a possibilidade de conhecê-lo pessoalmente e possa compreender o que me foi negado por aqui.
Respeitosamente: pepe granja
Se alguém puder me oferecer informações que satisfaçam meu inconformismo, agradeço imensamente e, acredito, que muitos outros agradecerão, também, por se livrarem de meus questionamentos.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
A proposta
Rapaiz! A minha dívida deve ser gigantesca, a julgar pelo que estão me fazendo pagar.
Essa minha mania de ficar procurando analogias pra explicar as coisas, me fez procurar alguma que demonstrasse o que vem me acontecendo. Pensei naquele boneco de plástico, inflável, sem pernas, com a barriga chegando até o chão, aumentando de diâmetro desde a cintura. Na parte de baixo ele tinha um peso (acho que era um compartimento cheio de areia), que o mantinha de pé, impedindo-o de tombar. O que mais me lembro era do sorriso idiota, na cara redonda, gozando com a cara dos que lhe davam porradas, tentando derruba-lo, sem conseguir. O chamavam de joão bobo. Ele tomava uma porrada na orelha direita, tombava pro lado esquerdo e voltava pra vertical. Uma bifa na orelha esquerda o tombava pro lado direito e voltava a ficar em pé, quase imediatamente. Enfurecido, o agressor lhe enfiava uma porrada nas fuças, ele tombava pra trás e voltava a ficar em pé, mostrando aquele sorriso imbecil. Pois é, estou como esse boneco, tomando porradas, caindo e voltando a ficar de pé. A diferença é a falta de sorriso, em mim, embora não falte a imbecilidade.
Quando foi diagnosticado que eu estava com ELA (esclerose lateral amiotrófica), que causa degeneração progressiva dos músculos e é fatal; minha filha disse que, como as tentativas pra me derrubar não tinham tido êxito, o, ou quem, tentara me derrubar, decidira me contaminar com essa doença, que não oferece a menoras chance de cura e, de contrapeso, vai paralisando o indivíduo, até que ele só consiga mexer os olhos. Afinal, o joão bobo vai tombar e não se levantar mais.
Eu estava conformado, uma vez que não havia nada a fazer. Por outro lado, já fazia algum tempo que eu considerava que, já que não estava tendo chance de realizações prazerosas, que sobravam motivos pra sofrimento; o melhor seria morrer. O que me enchia o saco, era o preço que estavam cobrando pela minha morte: o definhamento prolongado, a paralisia progressiva, até atingir o objetivo. Achei que era um preço exorbitante, mas como não tinha a quem reclamar, nem como deixar de pagar; resolvi me conformar e não aumentar a apurrinhação com revolta e reclamações.
Motivos pra reclamar não me faltavam. O agressor, não se conformava em só me dar porradas; quando achava que eu poderia cair de vez, me animava com promessas de algo bom. Eram só promessas, pra me reanimar, pra que eu pudesse sentir a próxima porrada com toda a intensidade que ela pretendia impor.
Essa somatória de evidências me mostravam que a intenção era me cobrar algo que estava devendo, embora eu não fizesse a menor idéia do quê.
Eu estava conformado, sentindo a desativação progressiva dos músculos e, conseqüentemente, dos movimentos; quando, na sala de espera, aguardando ser chamado pra mais uma consulta médica; um cara me abordou dizendo que tinha uma proposta pra me fazer e que era do meu maior interesse. Nessa hora me chamaram pra consulta e o cara disse que me esperaria na saída.
Quando saí, o cara veio todo amistoso pro meu lado, me perguntou como havia sido a consulta, como eu estava me sentindo e sugeriu que fossemos até um lanchonete, ali próxima, pra conversarmos mais a vontade.
Como eu não tinha nada a perder e a curiosidade fosse grande, aceitei.
Bem que eu gostaria de comer um churrasco com vinagrete e tomar cerveja, mas como não tinha força pra mastigar e tinha que tomar líquidos em pequenos golinhos, pra que não fossem parar no pulmão; me contentei com uma empadinha de palmito e um cafezinho com leite.
Enquanto eu comia lentamente, o cara foi explicando o que pretendia. Disse que sabia sobre o que estava acontecendo comigo, do que eu teria que passar até o final e do quanto isso deveria ser desagradável. Que tinha informações de que eu preferiria morrer rápido, antes que a degeneração me transformasse num boneco inerte.
Disse que representava um homem muito rico e poderoso que, no entanto, sofria um dilema que o poder e o dinheiro não puderam evitar.
Pediu que eu compreendesse que o que ele pretendia me fazer, era uma proposta e que eu era soberano pra decidir, No entanto, pedia pra que eu analisasse a proposta com serenidade e racionalidade, pois, embora fugisse aos padrões convencionais e pudesse, até, causar repulsa à maioria das pessoas; era suficientemente razoável quando analisada sob a luz da lógica.
Minha ojeriza ao poder, principalmente o oriundo do dinheiro, se encrespou e o impulso de mandar enfiar no rabo qualquer proposta vinda dele, me chegou à ponta da língua. Acho que a tarefa de triturar a empadinha com as poucas forças de que dispunha, me impediu de reagir de imediato e me deu tempo pra decidir ouvir a proposta antes de envia-la para o buraco pretendido.
O cara disse que, considerando minha preferência por morrer antes que a degeneração aumentasse meu desconforto e, de preferência de maneira tranqüila, rápida e sem dor ou qualquer sofrimento; me oferecia essa possibilidade.
“Laranja madura, na beira da estrada, ta madura, Zé, ou tem marimbondo no pé”. O cara não parecia nem um pouco com um bom samaritano, ao contrário, parecia bem esperto e com intenção de conseguir alguma vantagem. Será que queria me vender uma morte confortável, cobrando uma boa grana por isso?
Ficamos um instante nos observando, ele tentando identificar qual seria minha reação e, eu, tentando adivinhar qual o interesse verdadeiro dele. Ao final, perguntei sobre o que teria que dar em troca.
Ele disse saber que eu não era nenhum idiota e que, portanto, não se atreveria a me ofender tentando vender gato por lebre. Que me oferecia a possibilidade de morrer com todo conforto, aparentando morte natural, sem qualquer possibilidade de problema legal, com todo amparo à família. Disse saber que eu era optante pela doação de órgãos, portanto, depois de morto, meu desejo seria cumprido.
Disse que o homem que representava, sofria de uma doença cardíaca e precisava de um transplante de coração com urgência. Que a fila de espera era grande e que era difícil encontrar doadores compatíveis com ele, o que diminuía bastante suas chances de conseguir o transplante que poderia salva-lo. Portanto, meu coração seria o pagamento pelo serviço recebido.
A proposta era razoável e atendia plenamente minha vontade, no entanto, minha ojeriza ao poder de compra me causava repulsa e não pude evitar dizer isso ao cara.
Ele disse compreender, mas argumentou que as coisas eram assim e que, gostássemos ou não, era infrutífera qualquer luta contra o poder e os poderosos. Ele argumentou não considerar aquele um caso de exploração, era uma troca. Eu receberia o que desejava e propiciaria ao outro o que ele necessitava.
Eu argumentei que ele estaria furando uma fila, onde outras pessoas poderiam estar mais necessitadas que ele.
Ele argumentou que eu também estaria furando uma fila, abreviando minha morte que, normalmente, ainda não estava na hora de acontecer.
Ele tinha razão, se eu concordasse, estaria furando a fila, valendo-me do mesmo artifício que o seu patrão.
O cara argumentou que, embora os meios não fossem muito honestos, os fins os justificavam, pois eu me livraria de um sofrimento desnecessário e o homem recuperaria a saúde, sem que alguém sofresse qualquer prejuízo.
Lembrei-o de que havia o problema da compatibilidade. Ele disse que, antes de me procurar, haviam verificado a compatibilidade, sem o que, seria perda de tempo me procurarem; além de terem a informação que, a despeito da minha doença, o coração estava em boas condições.
Perguntei-lhe sobre como haviam conseguido essas informações e ele disse que era confidencial, mas que as fontes eram seguras.
Eu quis saber como conseguiriam a minha morte, sem levantar suspeitas.
Ele disse que tinham uma equipe médica, que estaria de plantão em um hospital, para o qual eu seria levado como vítima de um mal súbito ou coisa parecida. A equipe me atenderia, aplicaria uma droga eficiente e forneceria um atestado de óbito assinado por dois médicos, exigência para possibilitar a cremação.
Argumentei que esse tipo de morte exige autópsia. O que eles fariam para evitar isso?
Ele disse que estava tudo sob controle e que essa formalidade seria dispensada.
Pensei que se houvesse algum problema, eles é que arcariam com as conseqüências, uma vez que eu estaria morto e minha família não tinha como ser acusada de nada. Pensei algum tempo, inclinado a aceitar a proposta de imediato, no entanto, algo me fez pedir um tempo pra pensar. Disse-lhe isso e ele concordou em esperar um dia ou dois dias.
Pedi-lhe um número de telefone ou outro meio que me permitisse procura-lo pra dar a resposta. Ele disse que, para evitar problemas, se encarregaria de me procurar. Despedimo-nos e fomos embora.
Dormir e não acordar mais, que maravilha! Parar de sentir os músculos atrofiando, os movimentos desaparecendo, o aumento da dependência. Deixar de ser alvo de olhares entristecidos, expressando dó, pena e, até, medo. Eram muitas vantagens, aliás, só vantagens. Como recusar uma oferta daquelas?
No entanto, eu me sentia incomodado. Pensar naquilo me causava mal estar. Como não conseguia pensar em outra coisa, o mal estar era constante. Por que? Como algo tão bom poderia causar aquela sensação tão ruim?
A razão me inundava a mente com argumentos apoiando a eutanásia safada; o sentimento acusava insatisfação, sem explicar, sem justificar, só gerando incômodo, mal estar, insatisfação.
O tempo foi passando, enquanto argumentos racionais e sentimentos injustificados se embolavam na mente, gerando pensamentos confusos, contraditórios, numa batalha imbecil, impedindo uma decisão clara e objetiva.
Essa situação não era nova, inúmeras vezes, durante a vida, sofrera com isso. A contradição entre emoção e razão. A razão argumentando, justificando, oferecendo analogias esclarecedoras, enquanto a emoção só provocava sentimentos autoritários, sem qualquer justificativa, gerando vontades que forçavam satisfação a qualquer custo. Aliás, não é que a emoção não argumentava, ela o fazia através de sofismas, argumentos manipulados pra tentar justificar suas pretensões. Era uma argumentação safada, travestida de razão.
Nessa briga de foice entre razão e emoção, a primeira conseguiu destacar seus argumentos, defendendo a recusa da proposta, o que, aliás, atendia a satisfação da emoção.
A previsão do futuro era bastante indesejável. Sentir a incapacidade crescendo, diminuindo a capacidade para as coisas mais elementares, crescendo a dependência dos outros; não era nada agradável. Esperar um fim inevitável, nessas condições, não é nada animador. É um custo muito alto para benefício nenhum.
Não bastasse o custo pessoal exigido, ele se estenderia a outras pessoas, exigindo-lhes sacrifícios, ainda que só ter que presenciar a degradação de um corpo e a feiúra que isso representa. Em mim, isso aumentaria o custo ao ter que perceber ser alvo de pena e dó.
É um custo muito alto!
Porém, quando comparado com o valor das lutas por ideologia, por justiça e pela pregação da solidariedade, em que me empenhei durante todos esses anos; esse custo é muito pequeno.
Aceitar a proposta do cara, seria desvalorizar, anular, todas as lutas em que me empenhei. Mesmo reconhecendo que foram infrutíferas, que resultaram em fracassos; continuo acreditando que o sucesso delas produziria uma convivência menos problemática e mais feliz; portanto foram válidas e não me arrependo de tê-las lutado.
Se não posso fechar minha vida com chave de ouro, não me atrevo a enlamear a história que construí ou, pelo menos, protagonizei.
Pode ser besteira, e acho que é, no entanto, não vou entregar os pontos no último round da luta. O cara que se vire com o seu problema que, do meu, cuido eu e não vai ser o medo de enfrentar um tempo de vida miserável que vai me fazer jogar a toalha.
Nãooooooooooo! Gritei tão alto a resposta à pergunta do cara sobre minha decisão, que acordei.
Essa minha mania de ficar procurando analogias pra explicar as coisas, me fez procurar alguma que demonstrasse o que vem me acontecendo. Pensei naquele boneco de plástico, inflável, sem pernas, com a barriga chegando até o chão, aumentando de diâmetro desde a cintura. Na parte de baixo ele tinha um peso (acho que era um compartimento cheio de areia), que o mantinha de pé, impedindo-o de tombar. O que mais me lembro era do sorriso idiota, na cara redonda, gozando com a cara dos que lhe davam porradas, tentando derruba-lo, sem conseguir. O chamavam de joão bobo. Ele tomava uma porrada na orelha direita, tombava pro lado esquerdo e voltava pra vertical. Uma bifa na orelha esquerda o tombava pro lado direito e voltava a ficar em pé, quase imediatamente. Enfurecido, o agressor lhe enfiava uma porrada nas fuças, ele tombava pra trás e voltava a ficar em pé, mostrando aquele sorriso imbecil. Pois é, estou como esse boneco, tomando porradas, caindo e voltando a ficar de pé. A diferença é a falta de sorriso, em mim, embora não falte a imbecilidade.
Quando foi diagnosticado que eu estava com ELA (esclerose lateral amiotrófica), que causa degeneração progressiva dos músculos e é fatal; minha filha disse que, como as tentativas pra me derrubar não tinham tido êxito, o, ou quem, tentara me derrubar, decidira me contaminar com essa doença, que não oferece a menoras chance de cura e, de contrapeso, vai paralisando o indivíduo, até que ele só consiga mexer os olhos. Afinal, o joão bobo vai tombar e não se levantar mais.
Eu estava conformado, uma vez que não havia nada a fazer. Por outro lado, já fazia algum tempo que eu considerava que, já que não estava tendo chance de realizações prazerosas, que sobravam motivos pra sofrimento; o melhor seria morrer. O que me enchia o saco, era o preço que estavam cobrando pela minha morte: o definhamento prolongado, a paralisia progressiva, até atingir o objetivo. Achei que era um preço exorbitante, mas como não tinha a quem reclamar, nem como deixar de pagar; resolvi me conformar e não aumentar a apurrinhação com revolta e reclamações.
Motivos pra reclamar não me faltavam. O agressor, não se conformava em só me dar porradas; quando achava que eu poderia cair de vez, me animava com promessas de algo bom. Eram só promessas, pra me reanimar, pra que eu pudesse sentir a próxima porrada com toda a intensidade que ela pretendia impor.
Essa somatória de evidências me mostravam que a intenção era me cobrar algo que estava devendo, embora eu não fizesse a menor idéia do quê.
Eu estava conformado, sentindo a desativação progressiva dos músculos e, conseqüentemente, dos movimentos; quando, na sala de espera, aguardando ser chamado pra mais uma consulta médica; um cara me abordou dizendo que tinha uma proposta pra me fazer e que era do meu maior interesse. Nessa hora me chamaram pra consulta e o cara disse que me esperaria na saída.
Quando saí, o cara veio todo amistoso pro meu lado, me perguntou como havia sido a consulta, como eu estava me sentindo e sugeriu que fossemos até um lanchonete, ali próxima, pra conversarmos mais a vontade.
Como eu não tinha nada a perder e a curiosidade fosse grande, aceitei.
Bem que eu gostaria de comer um churrasco com vinagrete e tomar cerveja, mas como não tinha força pra mastigar e tinha que tomar líquidos em pequenos golinhos, pra que não fossem parar no pulmão; me contentei com uma empadinha de palmito e um cafezinho com leite.
Enquanto eu comia lentamente, o cara foi explicando o que pretendia. Disse que sabia sobre o que estava acontecendo comigo, do que eu teria que passar até o final e do quanto isso deveria ser desagradável. Que tinha informações de que eu preferiria morrer rápido, antes que a degeneração me transformasse num boneco inerte.
Disse que representava um homem muito rico e poderoso que, no entanto, sofria um dilema que o poder e o dinheiro não puderam evitar.
Pediu que eu compreendesse que o que ele pretendia me fazer, era uma proposta e que eu era soberano pra decidir, No entanto, pedia pra que eu analisasse a proposta com serenidade e racionalidade, pois, embora fugisse aos padrões convencionais e pudesse, até, causar repulsa à maioria das pessoas; era suficientemente razoável quando analisada sob a luz da lógica.
Minha ojeriza ao poder, principalmente o oriundo do dinheiro, se encrespou e o impulso de mandar enfiar no rabo qualquer proposta vinda dele, me chegou à ponta da língua. Acho que a tarefa de triturar a empadinha com as poucas forças de que dispunha, me impediu de reagir de imediato e me deu tempo pra decidir ouvir a proposta antes de envia-la para o buraco pretendido.
O cara disse que, considerando minha preferência por morrer antes que a degeneração aumentasse meu desconforto e, de preferência de maneira tranqüila, rápida e sem dor ou qualquer sofrimento; me oferecia essa possibilidade.
“Laranja madura, na beira da estrada, ta madura, Zé, ou tem marimbondo no pé”. O cara não parecia nem um pouco com um bom samaritano, ao contrário, parecia bem esperto e com intenção de conseguir alguma vantagem. Será que queria me vender uma morte confortável, cobrando uma boa grana por isso?
Ficamos um instante nos observando, ele tentando identificar qual seria minha reação e, eu, tentando adivinhar qual o interesse verdadeiro dele. Ao final, perguntei sobre o que teria que dar em troca.
Ele disse saber que eu não era nenhum idiota e que, portanto, não se atreveria a me ofender tentando vender gato por lebre. Que me oferecia a possibilidade de morrer com todo conforto, aparentando morte natural, sem qualquer possibilidade de problema legal, com todo amparo à família. Disse saber que eu era optante pela doação de órgãos, portanto, depois de morto, meu desejo seria cumprido.
Disse que o homem que representava, sofria de uma doença cardíaca e precisava de um transplante de coração com urgência. Que a fila de espera era grande e que era difícil encontrar doadores compatíveis com ele, o que diminuía bastante suas chances de conseguir o transplante que poderia salva-lo. Portanto, meu coração seria o pagamento pelo serviço recebido.
A proposta era razoável e atendia plenamente minha vontade, no entanto, minha ojeriza ao poder de compra me causava repulsa e não pude evitar dizer isso ao cara.
Ele disse compreender, mas argumentou que as coisas eram assim e que, gostássemos ou não, era infrutífera qualquer luta contra o poder e os poderosos. Ele argumentou não considerar aquele um caso de exploração, era uma troca. Eu receberia o que desejava e propiciaria ao outro o que ele necessitava.
Eu argumentei que ele estaria furando uma fila, onde outras pessoas poderiam estar mais necessitadas que ele.
Ele argumentou que eu também estaria furando uma fila, abreviando minha morte que, normalmente, ainda não estava na hora de acontecer.
Ele tinha razão, se eu concordasse, estaria furando a fila, valendo-me do mesmo artifício que o seu patrão.
O cara argumentou que, embora os meios não fossem muito honestos, os fins os justificavam, pois eu me livraria de um sofrimento desnecessário e o homem recuperaria a saúde, sem que alguém sofresse qualquer prejuízo.
Lembrei-o de que havia o problema da compatibilidade. Ele disse que, antes de me procurar, haviam verificado a compatibilidade, sem o que, seria perda de tempo me procurarem; além de terem a informação que, a despeito da minha doença, o coração estava em boas condições.
Perguntei-lhe sobre como haviam conseguido essas informações e ele disse que era confidencial, mas que as fontes eram seguras.
Eu quis saber como conseguiriam a minha morte, sem levantar suspeitas.
Ele disse que tinham uma equipe médica, que estaria de plantão em um hospital, para o qual eu seria levado como vítima de um mal súbito ou coisa parecida. A equipe me atenderia, aplicaria uma droga eficiente e forneceria um atestado de óbito assinado por dois médicos, exigência para possibilitar a cremação.
Argumentei que esse tipo de morte exige autópsia. O que eles fariam para evitar isso?
Ele disse que estava tudo sob controle e que essa formalidade seria dispensada.
Pensei que se houvesse algum problema, eles é que arcariam com as conseqüências, uma vez que eu estaria morto e minha família não tinha como ser acusada de nada. Pensei algum tempo, inclinado a aceitar a proposta de imediato, no entanto, algo me fez pedir um tempo pra pensar. Disse-lhe isso e ele concordou em esperar um dia ou dois dias.
Pedi-lhe um número de telefone ou outro meio que me permitisse procura-lo pra dar a resposta. Ele disse que, para evitar problemas, se encarregaria de me procurar. Despedimo-nos e fomos embora.
Dormir e não acordar mais, que maravilha! Parar de sentir os músculos atrofiando, os movimentos desaparecendo, o aumento da dependência. Deixar de ser alvo de olhares entristecidos, expressando dó, pena e, até, medo. Eram muitas vantagens, aliás, só vantagens. Como recusar uma oferta daquelas?
No entanto, eu me sentia incomodado. Pensar naquilo me causava mal estar. Como não conseguia pensar em outra coisa, o mal estar era constante. Por que? Como algo tão bom poderia causar aquela sensação tão ruim?
A razão me inundava a mente com argumentos apoiando a eutanásia safada; o sentimento acusava insatisfação, sem explicar, sem justificar, só gerando incômodo, mal estar, insatisfação.
O tempo foi passando, enquanto argumentos racionais e sentimentos injustificados se embolavam na mente, gerando pensamentos confusos, contraditórios, numa batalha imbecil, impedindo uma decisão clara e objetiva.
Essa situação não era nova, inúmeras vezes, durante a vida, sofrera com isso. A contradição entre emoção e razão. A razão argumentando, justificando, oferecendo analogias esclarecedoras, enquanto a emoção só provocava sentimentos autoritários, sem qualquer justificativa, gerando vontades que forçavam satisfação a qualquer custo. Aliás, não é que a emoção não argumentava, ela o fazia através de sofismas, argumentos manipulados pra tentar justificar suas pretensões. Era uma argumentação safada, travestida de razão.
Nessa briga de foice entre razão e emoção, a primeira conseguiu destacar seus argumentos, defendendo a recusa da proposta, o que, aliás, atendia a satisfação da emoção.
A previsão do futuro era bastante indesejável. Sentir a incapacidade crescendo, diminuindo a capacidade para as coisas mais elementares, crescendo a dependência dos outros; não era nada agradável. Esperar um fim inevitável, nessas condições, não é nada animador. É um custo muito alto para benefício nenhum.
Não bastasse o custo pessoal exigido, ele se estenderia a outras pessoas, exigindo-lhes sacrifícios, ainda que só ter que presenciar a degradação de um corpo e a feiúra que isso representa. Em mim, isso aumentaria o custo ao ter que perceber ser alvo de pena e dó.
É um custo muito alto!
Porém, quando comparado com o valor das lutas por ideologia, por justiça e pela pregação da solidariedade, em que me empenhei durante todos esses anos; esse custo é muito pequeno.
Aceitar a proposta do cara, seria desvalorizar, anular, todas as lutas em que me empenhei. Mesmo reconhecendo que foram infrutíferas, que resultaram em fracassos; continuo acreditando que o sucesso delas produziria uma convivência menos problemática e mais feliz; portanto foram válidas e não me arrependo de tê-las lutado.
Se não posso fechar minha vida com chave de ouro, não me atrevo a enlamear a história que construí ou, pelo menos, protagonizei.
Pode ser besteira, e acho que é, no entanto, não vou entregar os pontos no último round da luta. O cara que se vire com o seu problema que, do meu, cuido eu e não vai ser o medo de enfrentar um tempo de vida miserável que vai me fazer jogar a toalha.
Nãooooooooooo! Gritei tão alto a resposta à pergunta do cara sobre minha decisão, que acordei.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Medo da morte?
MEDO DA MORTE?
Continuo lendo o livro “A última grande lição” escrito por Mitch Albom, a respeito da doença (ELA) de Morrie Schwartz.
São relatos, impressões e sentimentos sobre um cara que sabe que vai morrer, que vê e sente seu corpo “desminingüíndo” , que busca valorizar o que lhe resta de vida, tentando aproveitá-la para ensinar, chamar a atenção para valores normalmente desprezados, orientar, confortar e distribuir esperanças. Não consigo deixar de pensar que esse comportamento do Morrie objetive valorizar-se, merecer admiração, possibilitando permanecer por mais tempo e com mais força na lembrança das pessoas. Afinal, quem é que não gosta disso?
É interessante verificar a importância da vaidade pro indivíduo. O ser admirado é mais importante que a própria vida biológica. Imaginar que vai ser admirado, mesmo quando o físico não existir mais é muito atraente e causa enorme prazer. Isso é uma prova de que a vida é muito mais que células orgânicas que, no fundo, só servem para a criação de sentimentos e emoções que constituirão uma história. Acho que a história é o resultado da vida e que, depois de construída, o corpo que a propiciou é totalmente dispensável.Pode-se dizer que o corpo é como a forma de terra que serve para fundir a estátua de bronze: depois da fundição, a forma é desfeita, enquanto a estátua permanecerá por longo tempo.
É uma pena que tantas formas não atendam o objetivo e sejam descartadas vazias, ou preenchidas por materiais que não sobrevivem a elas.
A maioria das pessoas passa a vida buscando acumular capital para, depois, realizar satisfações pessoais. A maioria não consegue acumular nada e todo seu esforço é consumido pela sobrevivência.
A aposentadoria é considerada, pela maioria, o final da obrigação e o começo do desfrute que, no entanto, não acontece por falta de capacidade para realizá-lo. É natural que esses repudiem a morte, pois ela representa o final da esperança do desfrute que não aconteceu. Pra eles, a morte representa o fracasso, a frustração, o sentimento de não haver vivido.
Muitos desses sabem que não conseguiram fazer o que gostariam ter feito, limitando-se a criticar os que fizeram, aumentando os obstáculos que os impediram de realizações emocionais.
O empenho em garantir o futuro os impediu de aproveitar o presente, de aproveitar o amor quando ele estava incendiado, de beijar os filhos quando transbordavam de ternura, de chorar e rir com a sinceridade das amizades, de desfrutar o prazer de ajudar desinteressadamente, de lutar por interesses alheios, por justiça e por ideologias.
Esses tem razão de sobra pra temer a morte que lhes mostra o que não fizeram, não realizaram, nem mesmo tentaram. Ela os ameaça com o ostracismo, com lembranças vagas de alguém que passou..., que só passou pela vida.
Pra quem não se deixou escravizar por desejos mesquinhos, egoísmo e prepotência; a vida continua após a morte, mesmo que não existam céu, inferno, purgatório, reencarnação ou qualquer outro tipo de existência extra-terrena.
Continuo lendo o livro “A última grande lição” escrito por Mitch Albom, a respeito da doença (ELA) de Morrie Schwartz.
São relatos, impressões e sentimentos sobre um cara que sabe que vai morrer, que vê e sente seu corpo “desminingüíndo” , que busca valorizar o que lhe resta de vida, tentando aproveitá-la para ensinar, chamar a atenção para valores normalmente desprezados, orientar, confortar e distribuir esperanças. Não consigo deixar de pensar que esse comportamento do Morrie objetive valorizar-se, merecer admiração, possibilitando permanecer por mais tempo e com mais força na lembrança das pessoas. Afinal, quem é que não gosta disso?
É interessante verificar a importância da vaidade pro indivíduo. O ser admirado é mais importante que a própria vida biológica. Imaginar que vai ser admirado, mesmo quando o físico não existir mais é muito atraente e causa enorme prazer. Isso é uma prova de que a vida é muito mais que células orgânicas que, no fundo, só servem para a criação de sentimentos e emoções que constituirão uma história. Acho que a história é o resultado da vida e que, depois de construída, o corpo que a propiciou é totalmente dispensável.Pode-se dizer que o corpo é como a forma de terra que serve para fundir a estátua de bronze: depois da fundição, a forma é desfeita, enquanto a estátua permanecerá por longo tempo.
É uma pena que tantas formas não atendam o objetivo e sejam descartadas vazias, ou preenchidas por materiais que não sobrevivem a elas.
A maioria das pessoas passa a vida buscando acumular capital para, depois, realizar satisfações pessoais. A maioria não consegue acumular nada e todo seu esforço é consumido pela sobrevivência.
A aposentadoria é considerada, pela maioria, o final da obrigação e o começo do desfrute que, no entanto, não acontece por falta de capacidade para realizá-lo. É natural que esses repudiem a morte, pois ela representa o final da esperança do desfrute que não aconteceu. Pra eles, a morte representa o fracasso, a frustração, o sentimento de não haver vivido.
Muitos desses sabem que não conseguiram fazer o que gostariam ter feito, limitando-se a criticar os que fizeram, aumentando os obstáculos que os impediram de realizações emocionais.
O empenho em garantir o futuro os impediu de aproveitar o presente, de aproveitar o amor quando ele estava incendiado, de beijar os filhos quando transbordavam de ternura, de chorar e rir com a sinceridade das amizades, de desfrutar o prazer de ajudar desinteressadamente, de lutar por interesses alheios, por justiça e por ideologias.
Esses tem razão de sobra pra temer a morte que lhes mostra o que não fizeram, não realizaram, nem mesmo tentaram. Ela os ameaça com o ostracismo, com lembranças vagas de alguém que passou..., que só passou pela vida.
Pra quem não se deixou escravizar por desejos mesquinhos, egoísmo e prepotência; a vida continua após a morte, mesmo que não existam céu, inferno, purgatório, reencarnação ou qualquer outro tipo de existência extra-terrena.
domingo, 4 de maio de 2008
DESAPEGO
DESAPEGO
No final da primeira parte do livro “A última lição”, Morrie fala a Micht sobre a necessidade do desapego. Diz que é necessário ir fundo na emoção, vivenciá-la intensamente pra, depois, desapegar-se dela. Mergulhar no amor, no medo, senti-los intensamente, conhecê-los profundamente e, depois desapegar-se.
Pra mim, desapego é desfrutar sem a necessidade de possuir. É admirar a beleza da flor, sentir-lhe o perfume, sem colhê-la, deixando-a onde está, numa praça, no nosso quintal, ou em qualquer terreno que não nos pertença. É sentir o prazer de navegar em um barco que não nos pertence. Passar um final de semana em um sítio ou casa de praia que não possuímos, mas que podemos usar. É amar uma criança, independente de que seja nossa filha. É amar uma mulher enquanto for possível, enquanto ela nos quiser, sem ter que aprisioná-la, sem obrigatoriedade, só enquanto ela nos quiser pelo prazer de estar conosco. É trabalhar e lutar por realizações, independente de conquistas materiais que possam resultar. É livrar-se de preconceitos, defender idéias e mudar de opinião quando a racionalidade indique essa necessidade. É saber que não existem verdades absolutas.
Desapego é perceber que a vida não nos pertence, que nos foi dada sem perguntar se a queríamos e que nos será tirada sem nosso consentimento.
Desapego é perceber a limitação da nossa capacidade, usando-a, sem pretender mais do que ela pode.
Se você é dos que valorizam muito mais o possuir do que o desfrutar; deve ser um sofredor. Que pena!
No final da primeira parte do livro “A última lição”, Morrie fala a Micht sobre a necessidade do desapego. Diz que é necessário ir fundo na emoção, vivenciá-la intensamente pra, depois, desapegar-se dela. Mergulhar no amor, no medo, senti-los intensamente, conhecê-los profundamente e, depois desapegar-se.
Pra mim, desapego é desfrutar sem a necessidade de possuir. É admirar a beleza da flor, sentir-lhe o perfume, sem colhê-la, deixando-a onde está, numa praça, no nosso quintal, ou em qualquer terreno que não nos pertença. É sentir o prazer de navegar em um barco que não nos pertence. Passar um final de semana em um sítio ou casa de praia que não possuímos, mas que podemos usar. É amar uma criança, independente de que seja nossa filha. É amar uma mulher enquanto for possível, enquanto ela nos quiser, sem ter que aprisioná-la, sem obrigatoriedade, só enquanto ela nos quiser pelo prazer de estar conosco. É trabalhar e lutar por realizações, independente de conquistas materiais que possam resultar. É livrar-se de preconceitos, defender idéias e mudar de opinião quando a racionalidade indique essa necessidade. É saber que não existem verdades absolutas.
Desapego é perceber que a vida não nos pertence, que nos foi dada sem perguntar se a queríamos e que nos será tirada sem nosso consentimento.
Desapego é perceber a limitação da nossa capacidade, usando-a, sem pretender mais do que ela pode.
Se você é dos que valorizam muito mais o possuir do que o desfrutar; deve ser um sofredor. Que pena!
domingo, 27 de abril de 2008
VELHO
VELHO
Porra! Com que rapidez fiquei velho!
Faz pouco tempo, muito pouco, alguns meses; me sentia jovem. Não jovenzinho, mas jovem. Trinta e tantos..mais ou menos, sei lá!
De repente, olho minhas mãos e vejo veias saltadas, rugas acentuadas, algumas manchas escuras. A pele dos braços enrugada, frouxa, sem brilho. Os ombros caídos, o peito também.
Tá sobrando pele! E a barriga! Sempre fora uma tábua e, agora, algo a empurrava pra fora.
As pernas com pouco músculo e muita pele. Cadê o pelos das canelas? Talvez essa tenha sido a maior evidência da velhice.
Careca e cabelos grisalhos muito jovem tem, não é indício de velhice. Canelas carecas, sim! Que coisa feia, canelas lisas, sem pêlos. Lisas nada, marcadas por veias salientes e marcas de machucados antigos.
Corri pro espelho e olhei. Tava sobrando pele, bolsas sob os olhos em que ainda não tinha reparado. Como é que fui ficar velho tão de repente?!
Foi um choque! Sentei na área, no chão e, enquanto o sol caminhava, já chegando perto do horizonte; fiquei cismando. Como é que envelhecera tão rápido? O que tinha acontecido? Fiquei cismando...
De repente, a imagem do Pico do Gavião, em Andradas, onde a gente voava de paraglider, me ocupou o pensamento. Não o pico propriamente dito, mas o espigão da cordilheira. Foi isso mesmo!
A vida é como a cordilheira, a gente nasce e começa a subir em direção ao espigão, que representa a juventude. Dali, começa a descida, em direção à velhice. Vai-se descendo a encosta, acumulando anos a cada trecho, até chegar ao vale, que é a velhice.
Eu, pra variar, não concordei com o caminho pré-estabelecido. Ao invés de ir descendo, continuei caminhando pelo espigão, olhando o longe, como o piloto de vôo livre que busca o lift e, principalmente, as térmicas que o levarão para o alto. O objetivo é voar. Pousar é conseqüência que não se pode evitar, mas que se procura retardar ao máximo.
Meus objetivos me mantinham no alto, caminhando pelo espigão, negando-me a iniciar a descida. Não tinha tempo pra olhar pra mim, o olhar estava ocupado nas conquistas que pretendia.
Foi isso! Eu não olhei pra mim, por isso não percebi o que acontecia. Minha mente ficou no espigão enquanto, como eu teimasse em não descer, os anos subiram e foram se acumulando sem que os percebesse.
Nunca tive nada de excepcional, nem músculos, nem formas, nenhum tipo do que se pode classificar como beleza. Nunca me incomodou muito, não fez falta. Fui admirado e reconhecido por outros motivos e, isso, foi importante. Racionalidade, emoção e sensibilidade foram se fortificando com o decorrer do tempo. Acho que isso me fez acreditar que remoçava quando, na verdade, envelhecia. A não ser a capacidade de lembrar, a mente não se deteriora com a idade, ao contrário, se apura e expande. No entanto, a carcaça deteriora, dificultando que a evolução da mente seja melhor aproveitada.
Por algum motivo, nesta idade, eu teria que estar onde estou e, como não havia tempo para descer a rampa da velhice, despenquei na falésia que não permitia volta.
Talvez eu pensasse que enganaria a natureza ou que morreria no espigão, livrando-me da descida.
Nem uma coisa nem outra! Estou aqui, com pele sobrando, pêlos faltando, músculos murchando, gorduras se acumulando num corpo magro e desajeitado, como sempre foi.
Porra de natureza! Por que tem que ser assim?
Porra! Com que rapidez fiquei velho!
Faz pouco tempo, muito pouco, alguns meses; me sentia jovem. Não jovenzinho, mas jovem. Trinta e tantos..mais ou menos, sei lá!
De repente, olho minhas mãos e vejo veias saltadas, rugas acentuadas, algumas manchas escuras. A pele dos braços enrugada, frouxa, sem brilho. Os ombros caídos, o peito também.
Tá sobrando pele! E a barriga! Sempre fora uma tábua e, agora, algo a empurrava pra fora.
As pernas com pouco músculo e muita pele. Cadê o pelos das canelas? Talvez essa tenha sido a maior evidência da velhice.
Careca e cabelos grisalhos muito jovem tem, não é indício de velhice. Canelas carecas, sim! Que coisa feia, canelas lisas, sem pêlos. Lisas nada, marcadas por veias salientes e marcas de machucados antigos.
Corri pro espelho e olhei. Tava sobrando pele, bolsas sob os olhos em que ainda não tinha reparado. Como é que fui ficar velho tão de repente?!
Foi um choque! Sentei na área, no chão e, enquanto o sol caminhava, já chegando perto do horizonte; fiquei cismando. Como é que envelhecera tão rápido? O que tinha acontecido? Fiquei cismando...
De repente, a imagem do Pico do Gavião, em Andradas, onde a gente voava de paraglider, me ocupou o pensamento. Não o pico propriamente dito, mas o espigão da cordilheira. Foi isso mesmo!
A vida é como a cordilheira, a gente nasce e começa a subir em direção ao espigão, que representa a juventude. Dali, começa a descida, em direção à velhice. Vai-se descendo a encosta, acumulando anos a cada trecho, até chegar ao vale, que é a velhice.
Eu, pra variar, não concordei com o caminho pré-estabelecido. Ao invés de ir descendo, continuei caminhando pelo espigão, olhando o longe, como o piloto de vôo livre que busca o lift e, principalmente, as térmicas que o levarão para o alto. O objetivo é voar. Pousar é conseqüência que não se pode evitar, mas que se procura retardar ao máximo.
Meus objetivos me mantinham no alto, caminhando pelo espigão, negando-me a iniciar a descida. Não tinha tempo pra olhar pra mim, o olhar estava ocupado nas conquistas que pretendia.
Foi isso! Eu não olhei pra mim, por isso não percebi o que acontecia. Minha mente ficou no espigão enquanto, como eu teimasse em não descer, os anos subiram e foram se acumulando sem que os percebesse.
Nunca tive nada de excepcional, nem músculos, nem formas, nenhum tipo do que se pode classificar como beleza. Nunca me incomodou muito, não fez falta. Fui admirado e reconhecido por outros motivos e, isso, foi importante. Racionalidade, emoção e sensibilidade foram se fortificando com o decorrer do tempo. Acho que isso me fez acreditar que remoçava quando, na verdade, envelhecia. A não ser a capacidade de lembrar, a mente não se deteriora com a idade, ao contrário, se apura e expande. No entanto, a carcaça deteriora, dificultando que a evolução da mente seja melhor aproveitada.
Por algum motivo, nesta idade, eu teria que estar onde estou e, como não havia tempo para descer a rampa da velhice, despenquei na falésia que não permitia volta.
Talvez eu pensasse que enganaria a natureza ou que morreria no espigão, livrando-me da descida.
Nem uma coisa nem outra! Estou aqui, com pele sobrando, pêlos faltando, músculos murchando, gorduras se acumulando num corpo magro e desajeitado, como sempre foi.
Porra de natureza! Por que tem que ser assim?
quarta-feira, 9 de abril de 2008
ELA
Ah, ah, ah.
Eu não poderia ser acometido por uma doença comum, dessas que, de vez em quando, a gente fica sabendo que matou algum conhecido. Não. Tinha que ser uma doença rara, sem causas conhecidas, sem tratamento regenerativo e sem chances de evitar a progressividade. Uma doença que se encaixa bem nas minhas características, fugindo do convencional.
Pra muitas pessoas, a falta de alternativas é uma tragédia. Eu considero isso uma vantagem, evitando gastar tempo, dinheiro e trabalho na busca de cura. Ela é claramente definida: não tem cura e acabou! Se você tiver alguma coisa pra fazer, faça logo, enquanto for possível.
É comum ao ser humano planejar o futuro. A identificação de uma doença fatal, informa que não haverá futuro mais distante e que é hora de realizar, o mais rápido possível, o que estava planejado para um prazo maior. Quando o tempo é aproveitado com eficiência, é possível realizar muito mais do que em condições normais, em que o tempo costuma ser desperdiçado.
Na maioria dos casos, o tempo que resta de vida, é gasto na busca de tratamentos ou rituais que possam promover a cura. No caso da ELA esse problema não tem sentido, uma vez que não há tratamento possível. Portanto, a lógica recomenda usar o tempo para realizações que estavam à espera do futuro.
Eu não tenho esse problema. Sempre fiz projetos, mas me acostumei a não conseguir realizá-los. Sempre busquei realizar o que me foi possível e aproveitar as oportunidades de prazer que se me ofereceram. Acho que se não consegui tudo que quis (nem seria possível, tamanha a quantidade de quereres), aproveitei bem o que me foi possível e considero ter sido um privilegiado ter conseguido tanto; muito mais que a maioria dos mortais. O que vivi nesses quase sessenta anos, muitas pessoas não viveriam nem em duzentos. Portanto não tenho o menor direito de me queixar.
Os prazeres que vivi estão muito além de divertimentos e festividades. Eles envolveram grandes emoções, realizações, vencimento de desafios, conquista de admiração e reconhecimento. Tenho uma galeria de troféus composta de erros que cometi e que muito me ensinaram. Vivi experiências em vários níveis culturais, sociais e econômicos. Amei e fui amado, o que representou as emoções mais gratificantes e prazerosas. Não bastasse tudo isso, ainda mereci a classificação de diferente, aventureiro, louco e outros adjetivos que considero enaltecedores. Ta com inveja? Se quiser, ainda é tempo de mudar. Eu, até gostaria de ter mais, mas estou satisfeito e não me queixo.
Descobri que o que se conhece da vida é a ponta de um iceberg, a maior parte está envolta em mistério inescrutável. Pude perceber minha pequenez e, isso, me livrou de muitas culpas que senti. Pude me sentir como instrumento e perceber que não era tão capaz quanto imaginara, nem tão incapaz como pensara.
Os sintomas da doença, somados ao que tenho passado nos últimos tempos, me indicavam a possibilidade de que caminhava, aceleradamente, para o fim. O diagnóstico confirmou isso e causou um certo impacto. De certa maneira, foi a confirmação do que eu já havia imaginado, mas confirmação é sempre confirmação. Não me abalou, não senti tristeza nem revolta. Continuei tranqüilo, mas tive que lidar com uma espécie de rearranjo das idéias, em fim, agora, já não era uma intuição, adivinhação ou sentimento; era uma constatação. O que era uma possibilidade, agora, era realidade palpável.
Fiz uma busca interna a procura de alguma vontade que esperasse satisfação. Não encontrei. Não tenho nenhuma vontade que mereça satisfação. Mais ainda, não encontrei vontades.
Eu já vinha vegetando, mesmo com capacidade para realizar coisas. Não porque eu quisesse, mas por falta de condições. Se pude vegetar inutilmente, enquanto tinha condições de trabalhar e realizar; não deverá ser difícil vegetar, tendo como justificativa a incapacidade física.
Se eu vinha vegetando no que se refere a ações externas, o mesmo nunca aconteceu em meu interior. Nunca deixei de refletir, analisar, aventar hipóteses, desenvolver teses e chegar a conclusões. Tenho registrado tudo isso e está disponível a quem possa interessar. Portanto, se isso fosse utilizado, já seria realização mais que suficiente, Por isso não sinto falta de criar mais nada. Acho que já tenho muita coisa criada, sem aproveitamento.
O que tenho sofrido nos últimos tempos e o que, ainda, me resta sofrer; com certeza não causará inveja a ninguém. No entanto, o que desfrutei durante a vida, despertará muita cobiça em muita gente. No balanço de prós e contras, acho que saí no lucro. Isso me conforta e deve confortar a quem gosta de mim.
Ei! Não morri ainda. Espero, ainda, poder escrever mais bobagens neste espaço.
Eu gostaria que esta reflexão inspirasse pessoas a aproveitar as oportunidades boas que a vida oferece, evitando ter que se queixar de não tê-lo feito, se um dia chegar à situação em que me encontro.
Até!
Eu não poderia ser acometido por uma doença comum, dessas que, de vez em quando, a gente fica sabendo que matou algum conhecido. Não. Tinha que ser uma doença rara, sem causas conhecidas, sem tratamento regenerativo e sem chances de evitar a progressividade. Uma doença que se encaixa bem nas minhas características, fugindo do convencional.
Pra muitas pessoas, a falta de alternativas é uma tragédia. Eu considero isso uma vantagem, evitando gastar tempo, dinheiro e trabalho na busca de cura. Ela é claramente definida: não tem cura e acabou! Se você tiver alguma coisa pra fazer, faça logo, enquanto for possível.
É comum ao ser humano planejar o futuro. A identificação de uma doença fatal, informa que não haverá futuro mais distante e que é hora de realizar, o mais rápido possível, o que estava planejado para um prazo maior. Quando o tempo é aproveitado com eficiência, é possível realizar muito mais do que em condições normais, em que o tempo costuma ser desperdiçado.
Na maioria dos casos, o tempo que resta de vida, é gasto na busca de tratamentos ou rituais que possam promover a cura. No caso da ELA esse problema não tem sentido, uma vez que não há tratamento possível. Portanto, a lógica recomenda usar o tempo para realizações que estavam à espera do futuro.
Eu não tenho esse problema. Sempre fiz projetos, mas me acostumei a não conseguir realizá-los. Sempre busquei realizar o que me foi possível e aproveitar as oportunidades de prazer que se me ofereceram. Acho que se não consegui tudo que quis (nem seria possível, tamanha a quantidade de quereres), aproveitei bem o que me foi possível e considero ter sido um privilegiado ter conseguido tanto; muito mais que a maioria dos mortais. O que vivi nesses quase sessenta anos, muitas pessoas não viveriam nem em duzentos. Portanto não tenho o menor direito de me queixar.
Os prazeres que vivi estão muito além de divertimentos e festividades. Eles envolveram grandes emoções, realizações, vencimento de desafios, conquista de admiração e reconhecimento. Tenho uma galeria de troféus composta de erros que cometi e que muito me ensinaram. Vivi experiências em vários níveis culturais, sociais e econômicos. Amei e fui amado, o que representou as emoções mais gratificantes e prazerosas. Não bastasse tudo isso, ainda mereci a classificação de diferente, aventureiro, louco e outros adjetivos que considero enaltecedores. Ta com inveja? Se quiser, ainda é tempo de mudar. Eu, até gostaria de ter mais, mas estou satisfeito e não me queixo.
Descobri que o que se conhece da vida é a ponta de um iceberg, a maior parte está envolta em mistério inescrutável. Pude perceber minha pequenez e, isso, me livrou de muitas culpas que senti. Pude me sentir como instrumento e perceber que não era tão capaz quanto imaginara, nem tão incapaz como pensara.
Os sintomas da doença, somados ao que tenho passado nos últimos tempos, me indicavam a possibilidade de que caminhava, aceleradamente, para o fim. O diagnóstico confirmou isso e causou um certo impacto. De certa maneira, foi a confirmação do que eu já havia imaginado, mas confirmação é sempre confirmação. Não me abalou, não senti tristeza nem revolta. Continuei tranqüilo, mas tive que lidar com uma espécie de rearranjo das idéias, em fim, agora, já não era uma intuição, adivinhação ou sentimento; era uma constatação. O que era uma possibilidade, agora, era realidade palpável.
Fiz uma busca interna a procura de alguma vontade que esperasse satisfação. Não encontrei. Não tenho nenhuma vontade que mereça satisfação. Mais ainda, não encontrei vontades.
Eu já vinha vegetando, mesmo com capacidade para realizar coisas. Não porque eu quisesse, mas por falta de condições. Se pude vegetar inutilmente, enquanto tinha condições de trabalhar e realizar; não deverá ser difícil vegetar, tendo como justificativa a incapacidade física.
Se eu vinha vegetando no que se refere a ações externas, o mesmo nunca aconteceu em meu interior. Nunca deixei de refletir, analisar, aventar hipóteses, desenvolver teses e chegar a conclusões. Tenho registrado tudo isso e está disponível a quem possa interessar. Portanto, se isso fosse utilizado, já seria realização mais que suficiente, Por isso não sinto falta de criar mais nada. Acho que já tenho muita coisa criada, sem aproveitamento.
O que tenho sofrido nos últimos tempos e o que, ainda, me resta sofrer; com certeza não causará inveja a ninguém. No entanto, o que desfrutei durante a vida, despertará muita cobiça em muita gente. No balanço de prós e contras, acho que saí no lucro. Isso me conforta e deve confortar a quem gosta de mim.
Ei! Não morri ainda. Espero, ainda, poder escrever mais bobagens neste espaço.
Eu gostaria que esta reflexão inspirasse pessoas a aproveitar as oportunidades boas que a vida oferece, evitando ter que se queixar de não tê-lo feito, se um dia chegar à situação em que me encontro.
Até!
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